ESTUDO BIBLICO EM ATOS DOS APOSTOLOS
A ação do Espírito Santo através da Igreja
Em virtude das comemorações do centenário das Assembléias de
Deus no Brasil, a revista Lições Bíblicas, ao longo desse trimestre, buscará,
baseada no Livro de Atos dos Apóstolos, refletir a razão e as ações da Igreja
de Cristo em seus primórdios, comparando-as com a Igreja dos nossos dias. O
comentarista das lições é o pastor Claudionor de Andrade, conferencista, autor
de várias obras e gerente de Publicações da CPAD. Como poderá ser verificado, o
término abrupto do livro de Atos sugere que os dons e as manifestações
espirituais, como promessa do Senhor ressurreto, acompanharão a Igreja pelos
séculos. Que esse ano seja de profundas reflexões para a compreensão da razão
da nossa existência como Igreja de Cristo.
Certamente haveremos de nos convencer de que, à semelhança
daqueles dias, o Espírito Santo vem agindo na Igreja e através da Igreja,
levando-a a ser o sal de um século insípido e a luz de um mundo em trevas. Mas
não espere encontrar uma igreja sem problemas, conforme adverte-nos o pastor
inglês John Stott: “A leitura de Atos não deve levar-nos a uma idealização da
Igreja Primitiva, como se ela não possuísse nenhum defeito. Como veremos
adiante, ela tinha muitos”.
Sim, não encontraremos uma igreja perfeita, mas uma igreja
poderosa e militante que espalha o Evangelho de Cristo sem impedimento algum.
AUTORIA, DATA E TEMA
Em seu Evangelho, Lucas fez um relato fidedigno e metódico pondo
“em ordem a narração dos fatos”, diz ele, “que entre nós se cumpriram, segundo
nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio” (Lc 1.1,2).
Já em Atos dos Apóstolos, pôs-se ele a narrar a expansão da Igreja de Cristo.
Neste livro, Lucas atua também como o personagem que, de forma modesta,
oculta-se na humildade do pronome da primeira pessoa do plural (At 20.6,13,15;
21.16; 27.8).
Conheçamos, pois, mais alguns detalhes dos Atos dos Apóstolos
que devem ser conhecidos ainda, segundo F.B. Meyer, como “os Atos do Espírito
do Cristo que ascendeu ao céu”.
Autoria. Não possuímos muitas
informações acerca do autor de Atos dos Apóstolos. Sabemos apenas tratar-se de
um homem excepcional, culto e possuidor de um estilo literário de
impressionante grandeza. Haja vista o prólogo de seu evangelho escrito num
grego que se aproxima do clássico (Lc 1.1-4).
Lucas também era médico (Cl 4.14). E mui amado por todos.
Pelo que depreendemos de sua obra, veio ele a converter-se depois
da ascensão do Senhor Jesus. A partir da segunda viagem missionária de Paulo,
encontramo-lo a participar ativamente da evangelização dos gentios (At 16.10).
Data de composição. Lucas concluiu os
Atos dos Apóstolos entre os anos 61-63. Portanto, antes da execução de Paulo e
bem antes da destruição de Jerusalém pelos romanos. Historiador consciencioso
que era, jamais deixaria de mencionar ambos os fatos, houvesse ele escrito o
livro após o ano 70. Acerca da historiografia lucana, manifesta-se A. N. Sherwin-White,
emérito professor de história da Universidade de Oxford: “Para o autor de Atos,
a confirmação da historicidade dos fatos é fundamental”.
Tema. Podemos resumir assim o
tema central dos Atos dos Apóstolos: A expansão triunfal do Evangelho de Cristo
através da Igreja no poder do Espírito Santo.
O CONTEÚDO DE ATOS DOS APÓSTOLOS
Assim podemos dividir o conteúdo de Atos dos Apóstolos: Eventos
Pré-pentecostais (At 1); Evento Pentecostal (At 2); A expansão do Evangelho em
Jerusalém (At 3-7); A expansão do Evangelho na Judeia e Samaria (At 8-12); A
expansão do Evangelho entre os gentios (At 13-28). As divisões de Atos dos
Apóstolos acompanham a ordem de Jesus em Atos 1.8.
Eventos pré-pentecostais. Dois
foram os principais eventos que precederam a descida do Espírito Santo no Dia
de Pentecostes: a ascensão de Cristo e a escolha de Matias como ocupante do
posto desprezado por Judas Iscariotes.
a) A ascensão de Cristo. A subida do Cristo
ressurreto e glorioso ao céu, como veremos na próxima lição, não foi um
artifício mitológico criado por Lucas, mas um fato histórico comprovado e
testemunhado por centenas de pessoas (At 1.15; 1 Co 15.6).
b) A eleição de Matias. A escolha do substituto
do Iscariotes tem de ser encarada como um capítulo importantíssimo da História
da Igreja Cristã. Além do mais, foi o próprio Espírito Santo quem constrangeu a
Pedro a presidir a reunião que culminou com a designação de Matias. A Igreja não
poderia ser inaugurada com o colégio apostólico incompleto (At 1.15-20).
Evento Pentecostal. Estando o Cristo
já à destra do Pai e a vacância de Judas preenchida por Matias, só faltava
mesmo a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, para que a Igreja fosse
inaugurada como a agência por excelência do Reino de Deus. O fato está
registrado em Atos capítulo dois. Na terceira lição, estaremos a discorrer com
mais vagar sobre o evento.
Eventos missionários. Lucas
narra, com precisão, seis eventos missionários que mostram como a Igreja de
Cristo expande-se de Jerusalém aos confins da terra: a expansão em Jerusalém, a
expansão na Judeia e Samaria e a expansão entre os gentios, compreendendo as
quatro viagens missionárias de Paulo.
a) A expansão em Jerusalém. Nenhum líder judeu
poderia imaginar que, logo após a morte do Senhor Jesus, a Igreja Cristã,
inaugurada no Pentecostes, esparramar-se-ia tão celeremente por toda Jerusalém.
No Sermão do Pentecostes, quase três mil almas agregaram-se aos fiéis (At 2.41).
Mais adiante, o número já sobe para quase cinco mil (At 4.4). Daí em diante,
multiplicou-se tanto o número de conversos que até mesmo não poucos sacerdotes
obedeciam a fé (At 6.7).
b) A expansão da Igreja na Judeia e Samaria. A
morte de Estêvão foi apenas o início de uma perseguição que culminaria com a
diáspora da igreja hebreia. Os irmãos, espalhados que foram pela arbitrariedade
das autoridades judaicas, iam semeando a Palavra de Deus por toda a Judeia até
chegar a desprezada Samaria (At 8.1-25). Nessa fase, destaca-se como
evangelista o que fora escolhido como diácono: Filipe (At 8.5).
c) A expansão da Igreja entre os gentios. Se
na parte inicial de Atos, a figura proeminente é Pedro, na segunda parte
destacar-se-á Saulo de Tarso como o grande campeão de Cristo que, em três
viagens missionárias, levou o Evangelho ao extremo ocidental do mundo então
conhecido sem impedimento algum (At 13-28).
O PROPÓSITO DE ATOS DOS APÓSTOLOS
O livro de Atos dos Apóstolos foi escrito com o propósito de
narrar e justificar a expansão universal da Igreja de Cristo no poder do
Espírito Santo. É o seu intento também estimular os crentes de todas as
gerações a prosseguir na universalização do Reino de Deus até a volta de
Cristo.
Narrar a expansão da Igreja. Como
a Igreja de Cristo, inaugurada pelo Espírito Santo em Jerusalém, veio a
tornar-se na universal e invisível assembléia dos santos? Foi justamente para
responder a esta pergunta que Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos. Metódica e
sistematicamente, mostra ele como a Igreja transcendeu as fronteiras da Judeia
para universalizar-se nos confins da terra (At 1.1-15).
A justificar os Atos dos Apóstolos. De
maneira sutil, porém bastante evidente, Lucas destaca o mandamento do Cristo
que justifica não apenas a expansão da Igreja como a sua universalização: “Mas
recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins da terra” (At 1.8). Evangelizar e fazer missões é a nossa obrigação.
Estimular aos crentes. Ao
encerrar os Atos dos Apóstolos, deixa Lucas bem patente a todos nós que aqueles
atos não foram encerrados com a prisão de Paulo em Roma, mas acham-se abertos e
livres para que evangelizemos e façamos missões até a volta de Jesus sem
impedimento algum.
Atos dos Apóstolos.“Os capítulos iniciais do Livro
de Atos definem os alicerces do explosivo crescimento da jovem igreja. Por
cerca de quarenta dias os discípulos foram ensinados, por Jesus, sobre ‘o Reino
de Deus’ e sua responsabilidade de difundir a mensagem de Jesus ‘até aos
confins da terra’ (1.1-8). A ascensão visível de Cristo ao céu foi seguida por
um breve período de espera, durante o qual os discípulos escolheram um fiel
seguidor de Jesus para assumir o lugar de Judas Iscariotes (1.9-26). Esta
espera terminou no dia de Pentecostes.
[Os] primeiros capítulos de Atos apresentam os temas que
percorrem todas as epístolas do Novo Testamento, e são vitais para nós hoje. O
primeiro tema é o Espírito Santo. Sua vinda inaugura a igreja [...]. O segundo
tema é a evangelização. Os primeiros cristãos são levados a proclamarem o
Senhor [...]. O terceiro motivo é a comunhão. Os membros da jovem igreja são
unidos por comprometimento compartilhado com Jesus. Eles adoram, estudam,
repartem e oram juntos, em unidade que inspira profundo carinho de uns pelos
outros. Embora devamos encarar o Livro de Atos como documento descritivo que
retrata o que aconteceu no século I, em lugar de encará-lo como um documento
prescritivo que nos instrui sobre como devemos viver hoje, estes três temas nos
lembram de como dependência do Espírito, paixão pela evangelização e
comprometimento com a comunhão são vitais para qualquer pessoa que procure
seguir a Jesus Cristo em nossa época”.(RICHARDS, L. O. Comentário Histórico-Cultural do Novo
Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.251-2)
A Eclesiologia em Lucas.“No pensamento de Lucas,
a Igreja relaciona-se com algumas coisas antigas e novas. Ela está ligada às
coisas antigas porque compartilha as promessas feitas e entrega essa mensagem
ao mundo. Ela está ligada às coisas novas porque é uma estrutura totalmente
nova por meio da qual, agora, Deus opera. Os apóstolos proclamavam nas
sinagogas que Jesus é o cumprimento da Lei do Antigo Testamento, portanto, todo
judeu que respondia as promessas devia vir a Jesus. A argumentação dos
apóstolos era que o fim natural do judaísmo encontrava-se em Jesus. No início
de Atos dos Apóstolos, os apóstolos não parecem considerar que foram chamados a
se separar de Israel. Eles iam ao Templo e se reuniam lá (At 3.1-10; 4.1,2;
5.12). A prática deles era sensível em relação às preocupações judaicas
(15.1-35; 21.17-26). [...] Até mesmo quando Paulo deixou os judeus para ir aos
gentios, ele ainda ia à sinagoga, ou ao Templo, das cidades que viajava (13.46
— 14.1; 18.6 com 21.26) [...] Os judeus que ouviam Paulo ficavam informados que
eles, para seguir até o fim seu compromisso com Deus, tinham de abraçar a
mensagem da promessa inaugurada e se tornar membros da nova comunidade.
Entretanto, os eventos forçaram a Igreja a se separar do Judaísmo, por causa da
rejeição judaica. Como resultado disso, a Igreja emergiu como uma comunidade
independente da sinagoga.
Lucas via essa comunidade que surgia como algo novo. Por isso,
em At 11.15, Pedro, ao se referir aos eventos de 2.1-4, usa a expressão ‘ao
princípio’. Agora, nos termos lucanos, ela é o início da realização da
promessa, conforme as declarações de Pedro relacionadas com a primeira
distribuição do Espírito (At 2.14-36) [...]. Assim, o surgimento da Igreja teve
sua origem na vinda do Espírito Santo. Atos 11.15-18 torna a concessão do
Espírito o marco inicial dessa nova era e desse novo grupo de fiéis. Lucas
explica como esse grupo torna-se distinto do judaísmo e, mesmo assim, tem o
direito de proclamar as promessas que costumam pertencer exclusivamente às
sinagogas. Deus está presente nessa nova comunidade. Em Atos 11, o ponto
adicional a respeito desse novo grupo é que Deus incluiu os gentios nesse
círculo de bênçãos com sua intervenção direta (vv.11-18). Em Atos 2, os eventos
da fundação da igreja fazem paralelo com os eventos da casa de Cornélio,
registrados em Atos 10.1 – 11.18, mostrando, sem deixar a menor sombra de
dúvida, que Deus agiu para incluir os gentios”.(ZUCK, R. et al. Teologia do Novo Testamento. 1.ed.
RJ: CPAD, 2008, pp.156-57)
A ascensão de Cristo e a promessa de
sua vinda
Jesus Cristo de Nazaré é apresentado nos Evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas (Sinóticos) e João como muito mais que um rabino judeu,
um grande professor ou um ousado profeta do século I. Os quatro evangelistas
afirmaram que Jesus Cristo é o tão esperado Messias de Israel, o seu Libertador
e o Deus encarnado! Dessas afirmações, denota-se a seguinte sentença: “Toda a
humanidade será julgada um dia, com base nas suas respostas a este Jesus” (Jo
1.1-14 cf. 8.12-19). Qual Jesus lhe foi apresentado? O que está morto ou o
ressurreto? A resposta, positiva ou negativa, a essas questões é fundamental
para determinar em que a sua fé está baseada. Nossa oração é que ela esteja no
“Cristo, o Filho do Deus vivo”(Mt 16.16).
O Cristianismo só é possível quando se recebe, como verdade
absoluta e irrecorrível, todos os fatos da História da Salvação. Os que buscam
subtrair o sobrenatural da Bíblia Sagrada, considerando-o um mero recurso
literário, atentam-lhe contra a origem divina. Por conseguinte, se não
aceitarmos a História Sagrada na íntegra, seremos forçados, por uma questão de
lógica e congruência, a rejeitá-la por inteiro.
No campo da teologia bíblica, não se pode dissociar o dogma da
verdade histórica: aquele sem esta não passa de um mito. Por conseguinte, só é
possível acreditar no Jesus Histórico se recebermos como verdade inquestionável
tanto a sua concepção virginal como a sua ressurreição e ascensão física aos
céus, onde está à destra de Deus. Na teologia autenticamente bíblica, não se
pode separar o Cristo Histórico do Cristo anunciado na mensagem dos apóstolos.
A HISTORICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO
A ascensão de Cristo, por conseguinte, não pode ficar
circunscrita ao dogma teológico; é teologia e dogma, mas é também um fato
histórico incontestável. Lucas deixa bem claro que a sua narrativa é baseada em
provas incontestáveis (At 1.3).
Data da ascensão. De maneira geral,
aceita-se que o Senhor Jesus foi assunto aos céus no ano 34 de nossa era. As
pequenas divergências cronológicas não desmerecem nem desacreditam o fato
histórico (Mc 16.6; At 2.32; 1 Ts 4.14).
Lugar da ascensão. Jesus
encontrava-se no Monte das Oliveiras com os seus discípulos quando ascendeu aos
céus. Situado a leste de Jerusalém, a 818 metros em relação ao nível do mar,
acha-se este monte intimamente ligado à vida e ao ministério Cristo.
As testemunhas da ascensão. Depreende-se
que aproximadamente 120 pessoas hajam presenciado a ascensão de nosso Senhor
(At 1.15). Quanto à sua ressurreição, afirma Paulo, foi testemunhada por mais
de quinhentos irmãos, a maioria dos quais ainda vivia quando Paulo escreveu a
sua Primeira Epístola aos Coríntios (1 Co 15.6,7). Quem poderia, num tribunal,
contestar o depoimento de tantas testemunhas? Aliás, segundo a Bíblia, a
declaração de duas ou três testemunhas oculares já era mais do que suficiente
para encerrar qualquer polêmica (Dt 17.6; 19.15; Mt 18.16; 1 Tm 5.19).
A TEOLOGICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO
No âmbito da Teologia Cristã, primeiro temos o fato, depois, o
dogma. Doutra forma, repetimos, não teríamos uma doutrina, mas uma
inconsistência histórico-teológica. Eis que podemos confiar no ensino da
ascensão de nosso Senhor. Vejamos, em primeiro lugar, o que é a ascensão de
Cristo.
Ascensão de Cristo. Subida corpórea e
física do Cristo ressurreto e glorioso aos céus, para junto do Pai, após haver
cumprido o seu ministério terreno. Sua ascensão foi, de fato, corpórea, porque
a sua ressurreição foi física e não aparente. É claro que o seu corpo, à
semelhança do que ocorrera no Monte da Transfiguração, foi elevado aos céus já
revestido de glória, poder e celestialidade. Quando do arrebatamento, teremos
um corpo semelhante (1 Co 15.50-58; 1 Jo 3.2).
Teologicamente, a ascensão de Cristo acha-se ligada a duas
importantes doutrinas: a paracletologia e a escatologia.
A perspectiva paracletológica. Antes
de ascender aos céus, prometeu o Senhor Jesus aos discípulos, ainda preocupados
com a restauração do Reino de Israel, que seriam eles revestidos pelo Espírito
Santo (At 1.8). Aos que buscavam a libertação política de um país, o Rei dos
reis entrega, como herança, todas as nações da terra. Não mais um império na
terra, mas o Reino de Deus no mundo. E isso no poder do Espírito Santo.
A perspectiva escatológica. A
narrativa da ascensão de Cristo traz, em si, o cerne da escatologia cristã. A
sua subida aos céus é uma consequência teológica tanto de sua morte quanto de
sua ressurreição. E acreditar nesta implica, para o cristão, esperançar-se no
retorno do Senhor que, estrugida a última trombeta, ressuscitará os que nEle
morreram e os que nEle vivem (1 Ts 4.14-17).
A sua ascensão foi sucedida por uma declaração escatológica. Aos
discípulos que, maravilhados, observavam a elevação do Filho de Deus, prometem
os dois seres angelicais: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu?
Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como
para o céu o vistes ir” (At 1.11).
A ASCENSÃO DE CRISTO EM NOSSA DEVOÇÃO
Além de sua beleza e sublimidade teológica, a ascensão de Nosso
Senhor Jesus Cristo enleva-nos a devoção, estreitando-nos a comunhão com o
Senhor. Vejamos, pois, alguns fatores devocionais que nos proporcionam o Cristo
que ascendeu aos céus.
A posição do Cristo que ascendeu. Ascendido
às alturas sob os olhares interrogativos e desolados de seus discípulos e
apóstolos, o Senhor Jesus assentou-se à destra do Pai. Ao registrar-lhe a
ascensão, o evangelista Marcos garante tratar-se não de um engenho fantasioso,
mas de um evento histórico: “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi
recebido no céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16.19). Vários autores sagrados
fazem menção ao acontecimento (At 2.33; 7.56; Hb 10.12; 12.2; 1 Pe 3.22).
Cristo está à destra de Deus. Alegremo-nos. Junto ao
Todo-Poderoso encontra-se um que nos compreende. À nossa semelhança, Ele sabe o
que é padecer (Is 53.3). Eis porque está sempre a interceder por nós como o
Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Não se desespere, Cristo
o compreende.
A eficácia salvífica do Cristo que ascendeu aos céus. À
destra de Deus, o Senhor Jesus atua como o mediador da nova aliança firmada em
seu sangue, através da qual obtivemos eterna salvação (Hb 5.9). Sim, somente em
seu nome é que o ser humano logra a redenção de sua alma, como reafirmou o
apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At
4.12).
À destra de Deus, o Senhor Jesus salva e justifica o pecador,
proporcionando-lhe a bem-aventurança de ser adotado pelo Pai como filho (Rm
5.1; Ef 1.5).
Cristo assunto, nosso Advogado. Consola-nos
saber que, à destra de Deus, temos um advogado sempre pronto a defender-nos as
causas junto ao Juiz de toda a terra. Eis como o discípulo do amor descreve
essa função do Senhor: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o
Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).
Se você pecou, não se desespere. Arrependa-se e confie no
Advogado que temos, junto, ao Pai.A ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo é um
fato comprovadamente histórico. Como é bom saber que, junto ao trono do
Todo-Poderoso, temos um intercessor e advogado sempre pronto a interceder por
nós. Amém! E um dia, mais rápido do que supomos, virá o Senhor arrebatar-nos,
para que estejamos sempre com Ele nos céus ao lado do Pai. Amém!
“A Teologia da Ressurreição de Cristo.Soteriologia
da ressurreição. Para que o pecado do homem seja expiado, deve haver uma
vida perfeita de justiça, vivida em completa obediência à santa lei de Deus,
para ser oferecida ‘sem mácula’. Cristo realizou esta importante obra através
de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15; 5.8,9). [...] Deus mostrou sua absoluta
satisfação com a obediência ativa e passiva de Cristo, ressuscitando o seu
Filho dos mortos, e assim atestando que sua obra que visava alcançar a nossa
justificação foi aprovada e aceita (Rm 4.25).
Escatologia da ressurreição. A ressurreição
revela a vitória completa e final sobre a morte e o pecado, e sobre os seus
efeitos no homem e na criação. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado, os crentes
também ressuscitarão em corpos transformados (1 Co 15). Por meio deste mesmo
fato, a natureza também será libertada da maldição. Esta é a explicação da
ressurreição do crente ou a manifestação dos filhos de Deus através da
‘redenção do nosso corpo’, e a remoção da ‘servidão da corrupção’ na segunda
vinda de Cristo serem mencionados como ocorrendo simultaneamente em Romanos
8.18-23”.(Dicionário
Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, p.1669)
“A Ressurreição.Além de 1 Coríntios 15,
há mais de uma dúzia de outras referências à ressurreição de Cristo nas
incontestáveis epístolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm 4.24,25;
6.4,9; 8.11,34; 10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10; etc). Em
segundo lugar, não há alternativa que explique adequadamente por que os
primeiros cristãos judeus (isto é, não apenas gentios) alteraram o seu dia de
adoração de sábado para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da
adoração no sábado (Sabbath)
um dos Dez Mandamentos invioláveis (Êx 20.8-11). Alguma coisa objetiva,
assombrosamente significativa e com data de alguma manhã de domingo em particular
deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma cultura em que o
testemunho das mulheres era frequentemente inadmissível em um tribunal, quem
inventaria um ‘mito’ relacionado à fundação, em que todas as primeiras
testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto lugar, os
relatos contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das bizarras
descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e depois. Em
quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro jamais foi
venerado, separando a resposta cristã à morte do seu fundador de praticamente
todas as outras religiões da história da humanidade. Finalmente, o que teria
levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que lhes foi
dada como herança de Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado, pela
própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em uma
posição de maldição diante de Deus? Novamente, é mais fácil crer em um evento
aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos estranhos
através de alguma outra lógica”.(BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do Novo Testamento. 1.ed.
RJ: CPAD, 2010, pp.66-67)
O derramamento do Espírito Santo no
Pentecostes
A plenitude do Espírito Santo é chamada de “a promessa do Pai”.
Há muitas promessas no texto bíblico, mas esta promessa específica
tem a ver diretamente com o derramamento do Santo Espírito. Profetas como
Ezequiel (39.29), Joel (2.28), Isaías (32.15; 44.3) e João Batista (Mt 3.11; Lc
3.16), proclamaram, durante seus ministérios, um futuro derramamento do
Espírito Santo sobre a casa de Israel, e sobre toda a carne,
como o evento que marcaria os últimos dias. Essa promessa foi corroborada pelo
Rei dos reis e o maior de todos os profetas: Jesus Cristo (At 1.4-8).
Atualmente diversos estudiosos, com pressupostos cessacionistas,
negam o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial de falar em outras
línguas, bem como a atualidade dos dons espirituais. Porém, as supostas provas
apresentadas por eles não se sustentam ante a hermenêutica bíblica. No Centenário
das Assembléias de Deus no Brasil, urge reafirmarmos este artigo de fé que nos
tem caracterizado desde Daniel Berg e Gunnar Vingren: “Cremos na atualidade do
batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais” Como não admitir uma
realidade bíblico-teológica tão evidente? E como desprezar a experiência de
milhões de crentes que, desde o Pentecostes, vêm recebendo o batismo com o
Espírito Santo com a evidência inicial e física do falar em outras línguas?
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
O teólogo pentecostal inglês, Donald Gee (1891-1966),
testemunha-nos acerca de sua experiência pentecostal: “Um louvor crescente
afluia agora em minha alma, até que comecei a falar em outras línguas
publicamente. Cantava muito em línguas. Toda a minha experiência cristã foi
revolucionada”. Mas o que é o batismo com o Espírito Santo?
O batismo com o Espírito Santo. Prometido
pelo Senhor Jesus Cristo, o batismo com o Espírito Santo é o
revestimento de poder que nos introduz numa nova dimensão espiritual,
habilitando-nos a proclamar o evangelho com mais eficácia, a devotar a Deus um
amor mais ardente e sacrifical e a ter uma vida mais santa e irrepreensível (Lc
24.49; At 1.8).
A evidência inicial e física do batismo com o Espírito
Santo. O batismo com o Espírito Santo é evidenciado pelo falar
noutras línguas. Lucas realça o fato em pelo menos três ocasiões distintas (At
2.1-3; 10.45-48; 19.1-7).
FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Ao contrário do que supõem os inimigos da Obra Pentecostal, o
batismo com o Espírito Santo não é uma prática destituída de doutrina; acha-se
assentada num forte e inamovível fundamento bíblico-teológico. Os escritores do
Antigo e do Novo Testamento referem-se ao derramamento do Santo Espírito nestes
últimos dias que começaram no Pentecostes.
Moisés. Pressionado pelos
encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele
insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de
repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar, inclusive Eldade e Medade,
que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já enciumado pelo profeta,
fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca de ambos: “Senhor meu,
Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu valoroso servo, o servo de
Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do SENHOR
fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os israelitas já podiam ter um
vislumbre, embora pálido, do que seria o Pentecostes.
Isaías. Conhecido como o evangelista do
Antigo Testamento, Isaías vaticina a efusão do Espírito Santo: “Porque
derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu
Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes”
(Is 44.3).
Joel. Ele recebe o justo
epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra a descida
do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os derradeiros
dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e
vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os
vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que invocar o nome do
SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor de Nosso
Senhor Jesus Cristo prediz o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em verdade,
vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais
poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará
com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
Jesus. O Filho de Deus promete a
efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se
ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse
ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At
1.4,5).
O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
O batismo com o Espírito Santo não é um modismo teológico nem
uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa feita pelo Pai, ratificada
pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da Igreja Cristã mostra que,
do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve continuidade na
dispensação dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho (354-430): “Nós faremos o que os
apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o
Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas
línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que
diremos de Lutero? Wesley? Finney?
OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
William W. Menzies, um dos mais notáveis teólogos das
Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da experiência
pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos experimentar uma
plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por
Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por sua Palavra
e pelos perdidos” (Mc 16.20).
Poder e unção a fim de proclamar o Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo. O evangelista, missionário e teólogo
metodista Stanley Jones é incisivo (1884-1973): “A vida do cristão começa no
Calvário, mas o trabalho eficiente, no Pentecostes”.
Os apóstolos do Cordeiro, antes do Pentecostes, andavam de
timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a alcançar Jerusalém, a
Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que diremos de Daniel Berg e
Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente, percorreram o Brasil empunhando
a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A
efusão do Espírito Santo levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma
reverência ainda maior ao Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia
temor, e muitos prodígios e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal plenifica nossa reverência a
Deus.
A experimentação da plenitude espiritual. Não
podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual. Deus tem muito mais a dar-nos,
conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba.
Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu
ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que nele
cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter
sido glorificado” (Jo 7.37-39).
“Falar em Línguas (Glossolalia)
‘Glossolalia’
é um termo técnico freqüentemente utilizado para o falar em línguas; é uma
forma combinada das palavras gregaslalia (‘discurso’,
‘fala’) e glossa (‘língua’,
‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao contrário do vento e do fogo,
é integral para os discípulos que são cheios do Espírito. ‘E todos foram cheios
do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito
Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At 2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos ‘começaram [archomai] a falar noutras
línguas’ (At 2.4). Não existe indicação de que os discípulos tenham iniciado,
ou de que eles mesmos ‘começaram’ o falar em línguas. [...] O significado de
‘eles começaram a falar em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram em línguas’.
[...] Os discípulos em Pentecostes falaram em línguas ‘conforme o Espírito ia
dando-lhes verbalização inspirada’ [tradução do autor], não sob o próprio
ímpeto deles. A expressão ‘conforme’ (kathos)
pode ser traduzida como ‘na medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6;
1 Co 12.10,28,30; 13.8; 14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.(PALMA, A. D. O Batismo no Espírito Santo e Com
Fogo. Os
Fundamentos Bíblicos e a Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed.
RJ: CPAD, 2002, pp.61-63)
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.“[...]
numa noite de quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de
semana na igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois
corri para desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do
término da reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o
culto, um respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de
catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a ‘esperas’ que pareciam uma
eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não era necessário. E, abrindo
sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois Marcos 11.24. Então perguntou-me
se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe que sim e, no momento em que
demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse do Céu para o interior do
meu coração, uma certeza absoluta de que essas promessas estavam sendo
realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria e satisfação foram
intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das palavras, e descobri
que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz todo o louvor
existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas semanas
aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em minha alma, também nas
reuniões, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito
em línguas também quando a pequena congregação era levada pelo Espírito Santo a
esse fim durante nossos momentos de oração e adoração. Toda minha experiência
cristã foi revolucionada. Eu não procurava mais aqui e ali por uma satisfação
espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu prazer estava na oração, no estudo
da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso aconteceu apenas seis semanas antes do
meu casamento, e um velho pastor batista, que veio para tentar questionar-me
sobre minha recente bênção, teve de admitir que nunca havia conhecido um rapaz
tão próximo de um acontecimento feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas
espirituais. Minha esposa, felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós
nos alegrávamos juntos”.(GEE, D. Como
receber o Batismo no Espírito Santo. Vivendo e testemunhando com poder. 1.ed.
CPAD, 2001, pp.13-15)
Comunhão na Igreja
Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva
era a comunhão entre os seus membros. Mais que oferecer parte ou o todo dos
bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos por um vínculo comum: eles
pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de Deus. A comunhão faz da
Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e mulheres que, apesar de
suas procedências étnicas e diversidades culturais, sentem-se e agem como
irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus se cuidarmos uns dos
outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a partilharem o que tinham,
abrindo as portas para a atuação do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor
acrescentando o número dos santos tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria
até os confins daquelas terras.
A COMUNHÃO DOS SANTOS
A comunhão observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno
social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que
recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma
comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de
Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz
20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo
e assim estará para todo o sempre.
O que é a comunhão. A comunhão é o
“vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os
cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário Teológico,
CPAD). A palavra grega koinonia traz
a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão
da Igreja Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas
também reuniram-se para socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de
Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis
um dos mais preciosos capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo
Paulo tinha uma perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo
Espírito Santo podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e
bárbaros que, apesar de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas
sentem-se e agem como irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só
corpo pela ação direta e distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma função específica, mas todos
trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo
também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre, todos sofrem com ele.
Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente nos socorremos (Ef
4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou tem promovido
divisões e dissensões entre os santos?
A comunhão da Igreja agrada a Deus. Deus
quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em sua oração
sacerdotal, o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus discípulos (Jo
17.11). Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a Deus (Ef 4.3).
Sim, esse é o vínculo da perfeição que tem como base o amor,
conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).
A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE
A comunhão cristã constitui-se num grande mistério. É algo que a
própria sociologia não pode explicar. Nem o próprio Israel de Deus, no Antigo
Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição e excelência. Aliás, as
diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível a unidade (1 Rs
12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja Primitiva. Que
este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha buscar-nos.
Unidade doutrinária. Não
pode haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os
cristãos primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era
uma doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico
constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do
corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente
pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por conseguinte, não há lugar para
heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre alertas. Nestes últimos dias,
muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas inverdades doutrinárias, com
o único intuito de destruir a comunhão dos santos (2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A
unidade doutrinária conduz a uma comunhão perfeita. Isto significa que não pode
haver genuína comunhão cristã com dois ou três pensamentos teológicos díspares
e contrastantes. As seitas aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta
uma doutrina contrária aos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da
doutrina de Balaão? (Jd v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20).
Muitos são os que mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como
especialistas no conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão perfeita, lutemos por
manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor: a heresia em si já é
uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser esquecida: “Ao homem
herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
Unidade no partir do pão. Os
crentes primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se reuniam
com alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o seu
“partir do pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode haver
comunhão mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na qual
lembravam a morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do amor
divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a celebrar a Santa Ceia como a
reunião mais importante e solene da Igreja. Todas as vezes que nos congregamos
com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo morreu e ressuscitou e
certificamo-nos de que, em breve, virá Ele arrebatar-nos.
Unidade nas orações. Informa-nos
Lucas, também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a oração. O
autor sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa que as
reuniões de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja vista
que, certa ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a
estrutura do prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão
da Igreja perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor
e intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!
OS FRUTOS DA COMUNHÃO CRISTÃ
Estes são os frutos gerados pela comunhão cristã, conforme
facilmente depreendemos da leitura do capítulo dois de Atos dos Apóstolos:
Temor a Deus. A verdadeira comunhão
frutifica, na vida da igreja como um todo e na vida de cada crente em
particular, um santo temor a Deus. Lucas destaca: “Em cada alma havia temor”
(At 2.43). E o temor a Deus, como todos sabemos, é o princípio do saber (Pv
1.7).
Quando os crentes temem e amam a Deus, a igreja mostra-se sabia
não apenas diante do Senhor, mas também do mundo. Ainda há temor a Deus em seu
coração?
Sinais e maravilhas. Pentecostais
que somos, acreditamos piamente que Deus ainda opera sinais e maravilhas entre
o seu povo. Mas, para que isso ocorra, é urgente que vivamos uma perfeita
comunhão com o Pai e com cada um de seus filhos. Lucas realça que, na Igreja
Primitiva, o sobrenatural era algo bastante natural entre os crentes: “e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). O segredo? A
comunhão.
Assistência social. Uma igreja que cultiva a
verdadeira comunhão cristã não permitirá que nenhum de seus membros passe
necessidade. Eis o que testemunha o autor sagrado: “Todos os que criam estavam
juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam
com todos, segundo cada um tinha necessidade” (At 2.44,45). Não se tratava de
um comunismo cristão, mas da autêntica comunhão que o Espírito Santo nos
esparge na alma. O comunismo só espalha o medo, a miséria e o ateísmo. A Igreja
de Cristo não precisa dessa ideologia para socorrer os seus membros; ela tem o
amor de Deus.
Crescimento. Uma igreja que cultiva a
comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: “[...] E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47b). A
Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode ficar estagnada.
Haverá de crescer local e universalmente.
Adoração. A Igreja Primitiva era
também uma comunidade de adoração “louvando a Deus e caindo na graça de todo o
povo” (At 2.47). Sim, a Igreja que louva a Deus jamais deixará de ser
reconhecida, até mesmo por seus inimigos, como um povo especial. Voltemos ao
altar da verdadeira adoração. Louvemos a Deus com salmos e hinos. Abramos a
Harpa Cristã e celebremos os grandes atos de Deus.
Sua igreja cultiva a verdadeira comunhão? É hora de voltarmos ao
cenáculo e reviver os tempos de refrigério e avivamento. Somente uma igreja que
experimenta a verdadeira comunhão com Cristo e com os seus membros em
particular, sobreviverá nestes tempos difíceis e trabalhosos. O Espírito Santo
quer operar em nosso meio. Mas só o fará se estivermos vivendo a genuína
comunhão cristã.
“No Pentecostes, depois da vinda do Espírito Santo, o
grupo de 120 explodiu! Em um dia três mil pessoas adotaram a fé, e passaram a
servir a Cristo. Elas foram agregadas à igreja, isto é, imediatamente se uniram
à comunhão de crentes. Os três mil novos crentes se reuniram com os outros como
eles, pessoas de pensamento e fé semelhantes. Lucas ressaltou a natureza
cotidiana das reuniões da igreja. Os crentes se reuniam tanto no templo
([...]), como em casa, para o partir do pão e, supostamente, para comunhão,
para darem atenção às necessidades e para a prática da oração. Uma má
interpretação comum sobre os primeiros cristãos (que eram judeus) era que eles
rejeitavam a religião judaica. Mas estes crentes viram a mensagem e a
ressurreição de Jesus como o cumprimento de tudo o que eles conheciam, e do
Antigo Testamento e em que criam. A princípio, os crentes de origem judaica não
se separaram do restante da comunidade judaica. Eles ainda iam ao Templo e às
sinagogas para adorarem e aprenderem mais sobre as Escrituras. Mas a sua fé em
Jesus Cristo criou um grande atrito com os judeus que não acreditavam que Jesus
fosse o Messias. Assim, os crentes judeus eram forçados a se reunirem nas suas
casas para compartilharem as suas orações e os ensinos a respeito de Cristo. No
final do século I, muitos desses crentes judeus foram excomungados das suas
sinagogas”.(Comentário
do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD,
2009, pp.632-34)
“A Comunhão dos Santos na Bíblia
A comunhão dos santos é uma expressão teológica e historicamente
forte. Quer na comunidade de Israel, quer na Igreja Primitiva, seu conceito não
é um mero casuísmo; é uma prática que leva o povo de Deus a sentir-se como um
só corpo”.“A comunhão
dos Santos em Israel.Nos momentos de emergência nacional,
levantavam-se os hebreus como um só homem. Isto mostra que, se um israelita
sofria, os demais padeciam; se uma tribo via-se em perigo, as outras sentiam-se
ameaçadas. A fim de manter o seu povo unido, suscitava-lhe o Senhor líderes
carismáticos como Gideão e Davi.
O amor entre os israelitas era realçado na Lei e nos Profetas.
Os hebreus, por exemplo, não podiam emprestar com usura para seus irmãos.
Quando da colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas. Foi
o que aconteceu a moabita Rute.
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebrantada,
instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência. Para conter todas
essas misérias, erguia Deus os seus profetas que, madrugando, repreendiam os
injustos, buscando reconduzi-los aos princípios da Lei de Moisés”.
“A Comunhão dos santos em o Novo Testamento
Ao retratar a comunhão entre os santos, escreve o português
Camilo Castelo Branco: ‘O amor de Deus é inseparável do amor do próximo. É
impossível no coração humano o incêndio suavíssimo do amor de Deus, quando o
grito da miséria não desperta no coração a mágoa das aflições do próximo’.Mais
adiante, acrescenta Camilo: ‘Vede como eles se amam diziam os pagãos, quando a
sociedade cristã repartia seus haveres em comunas, onde grande despojado de
suas galas, vinham sentar-se ao lado dos pobres, vestido de uma mesma túnica, e
nutrido por um semelhante quinhão nos ágapes da caridade’.
Sem a comunhão dos santos não pode haver cristianismo. Aliás,
protestou alguém certa vez: ‘O amor é a única forma de nos sentirmos realmente
cristãos’. Todos os escritores do Novo Testamento, a exemplo do Salvador,
realçaram a comunhão dos santos.No Sermão do Monte, ensinou Jesus os seus
discípulos a se amarem uns aos outros; doutra forma: não seriam contados entre
os seus seguidores”.(ANDRADE, C. As
Disciplinas da Vida Cristã. RJ: CPAD, 2008,
pp.117-19)
Sinais e maravilhas na Igreja
Por que os sinais e maravilhas eram tão comuns à Igreja
Primitiva? Qual o segredo daqueles cristãos? Não havia segredo algum. Havia uma
obediência amorosa e consciente à Grande Comissão que o Senhor Jesus confiou
aos seus discípulos. Quanto mais evangelizavam e faziam missões, mais o Cristo
neles operava por intermédio do Espírito Santo.
O mesmo não ocorre hoje com as igrejas que levam a sério o
imperioso “ide” de Cristo? Leia com atenção os últimos versículos do Evangelho
de Marcos e constate, em nossa própria realidade, o cumprimento pleno desta
promessa: “E estes sinais seguirão aos que crêem: em meu nome, expulsarão
demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma
coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos
e os curarão” (Mc 16.17,18).
Vejamos, pois, o papel e as funções dos sinais e maravilhas,
operados pelo Espírito Santo, na vida da Igreja.
SINAIS E MARAVILHAS, A AÇÃO SOBRENATURAL DA IGREJA
O milagre tem de ser visto não como algo que ficou nos tempos
bíblicos, mas como um recurso que o Espírito Santo nos coloca à disposição para
que glorifiquemos a Deus e disseminemos o evangelho de Cristo.
Definição. Os sinais e maravilhas
descritos na Bíblia, principalmente em o Novo Testamento, são operações
extraordinárias e sobrenaturais de Deus no âmbito das coisas naturais. São uma
suspensão das leis da natureza. Somente o que criou todas as coisas pode agir
natural e sobrenaturalmente em todas as coisas, porque tudo lhe é possível (Mc
10.27).
Objetivos do milagre. Dois
são os objetivos do milagre: glorificar a Deus e expandir-lhe o Reino (Mc 2.12;
Lc 5.26; Jo 11.4). Em Atos, os prodígios operados pelos apóstolos abriram-lhes
as portas da Palavra, a fim de que anunciassem com poder e destemor o
evangelho. Haja vista o ocorrido na Porta Formosa (At 3.1-11). E o ocorrido em
Listra? (At 14.8-18). A intervenção sobrenatural de Deus visa também beneficiar
o ser humano. Alguém que é curado do câncer, por exemplo, enaltece o nome do
Senhor pelo favor imerecido.
O milagre, por conseguinte, não tem por objetivo criar um
espetáculo. Foi por isso que o Senhor emudeceu-se e nada fez ante a curiosidade
de Herodes (Lc 23.8,9). Somente os que buscam a própria glória transformam os
sinais e maravilhas em um show.
Em Atos capítulo três, Pedro e João dirigiam-se ao Santo Templo
a fim de orarem, quando se depararam com aquele coxo de nascença que,
diariamente, era trazido ao lugar sagrado para esmolar (At 3.2). Observemos que
os apóstolos subiam juntos à Casa de Deus para buscar ao Senhor. Se juntos
clamavam ao Senhor, juntos estavam prestes a realizar um grande milagre.
Oração e milagre. Sem oração não há
poder. Moisés e Jesus, que operaram grandes e portentosos sinais, viviam em
constante oração e jejum (Êx 24.12-18; Mt 4.2). Se nós obreiros desta geração
quisermos também realizar milagres e maravilhas é mister que, juntos, à hora da
oração, subamos ao templo. A mão do nosso Deus não está encolhida para efetuar
o sobrenatural.
Quando nem ouro nem a prata fazem a diferença. Ao
ver os apóstolos, esperava o coxo receber deles alguma coisa. Todavia,
declarou-lhe Pedro: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em
nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3.6).
Hoje, há muitas igrejas ricas e poderosas. Algumas destas,
porém, já não conseguem mostrar o poder que operava nos apóstolos. Sim, elas
possuem muita prata e muito ouro, mas nenhum poder. O ouro e a prata somente
são eficazes quando utilizados na expansão do Reino de Deus. Caso contrário, de
nada valem diante daquele que disse: “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o
Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8). Portanto evangelizemos e façamos missões!
O milagre na Porta Formosa. O
mendigo achava-se justamente na Porta Formosa do Santo Templo (At 3.2). Que
contraste! Diante de toda aquela suntuosidade, um mendigo. A porta era formosa
e rica, mas achava-se fechada para aquele homem enfeado pela doença e
empobrecido por sua condição social.
O MILAGRE ABRE A PORTA DA PALAVRA
Realizado o milagre, o que fizeram os apóstolos? Certamente não
trabalharam o seu marketing pessoal nem foram abrir uma igreja independente.
Sabendo que a excelência estava em Cristo e não em si, aproveitaram a ocasião a
fim de proclamar o evangelho. Como tem você agido quando Deus usa-o na
realização de um milagre ou prodígio? Chama a glória toda a si? Ou glorifica o
Senhor da glória? Observe o modo como os apóstolos trataram o prodígio.
A proclamação da Palavra é mais importante que o milagre. Não
resta dúvida de que um portento fora realizado. Era notório a todos (At 4.16).
Era algo simplesmente inegável. Todavia, os apóstolos estavam prestes a mostrar
que aquela ocasião era mais do que propícia à proclamação da Palavra de Deus.
Hoje, temos muitas terças e quintas-feiras de milagres. Mas que todos os dias
sejam dedicados à pregação do evangelho. O Senhor Jesus estará presente entre
nós operando sinais e prodígios diariamente.
A proclamação da Palavra deve ser feita a tempo e a fora de
tempo. É o que recomenda Paulo a Timóteo: “Conjuro-te, pois diante de Deus e do
Senhor Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu
reino, que pregues a palavra, instes a tempo, redarguas, repreendas, exortes,
com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1,2).
Por conseguinte, Pedro e João aproveitaram a oportunidade a fim
de proclamar o Evangelho de Cristo tanto para o povo quanto para os sacerdotes.
Leia com vagar os capítulos três e quatro de Atos dos Apóstolos. E veja quantas
portas a pregação da Palavra foram abertas através do milagre operado pelos
apóstolos na Porta Formosa. Tem você aproveitado as oportunidades para anunciar
a mensagem da cruz? Ou acha que o milagre não passa de um espetáculo? É chegado
o momento de se pregar a tempo e fora de tempo que Cristo Jesus morreu e
ressuscitou para salvar o pecador.
Os sinais seguem aos que crêem. Mas quando estes seguem aqueles,
a igreja começa a ter problemas. Vejamos, pois, os milagres e prodígios como
oportunidades para anunciarmos o Evangelho de Cristo até aos confins da terra.
Por acaso não agiam assim os apóstolos de Nosso Senhor? Por que,
então, agiríamos de outro modo? À semelhança de Pedro e João, declaremos com
autoridade e ousadia: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou.
Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3.6).
“A natureza teológica de um milagre.Cada
uma destas três palavras que se referem a eventos sobrenaturais (sinal,
maravilhas e poder) delineia um aspecto do milagre. Um milagre é um evento
incomum (maravilha) que transmite e confirma uma mensagem incomum (sinal) por
intermédio de uma habilidade incomum (poder). Do ponto de vista divino
privilegiado, o milagre é um ato de Deus (poder) que atrai a atenção do povo de
Deus (maravilhas) para a Palavra de Deus (por meio de um sinal). [...] Eles são
normalmente utilizados como sinais para confirmar um sermão; como maravilhas
para verificar as palavras de um profeta; como milagre para ajudar a
estabelecer a sua mensagem (Jo 3.2; At 2.22). Um milagre, portanto, é uma intervenção divina, ou uma
interrupção, no curso regular do mundo que produz um evento com um objetivo
definido, o qual, apesar de incomum, não ocorreria (ou não poderia ocorrer) de
outra forma. Nessa definição, as leis naturais são compreendidas
como sendo a forma normal regular e geral pela qual o mundo funciona.
Entretanto, o milagre ocorre como um ato incomum, não-padronizado e específico
de um Deus que transcende o universo. Isto não significa que os milagres são
contrários às leis naturais; significa simplesmente que eles são originados em
uma fonte que está além da natureza”.(GEISLER, N. Teologia Sistemática. Vol.1.
1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.43-44)
A importância da disciplina na Igreja
Numa igreja descompromissada com a sã doutrina, crentes como
Ananias e Safira seriam até homenageados por sua “liberalidade e altruísmo”.
Mas numa igreja que prima pelo ensino, não subsistiriam. Haveriam de ser
desmascarados, repreendidos e fulminados pelo próprio Deus, pois Ele sonda-nos
a mente e o coração. A falta de doutrina, pois, acaba por induzir toda uma
congregação à hipocrisia e à mentira.No episódio de Ananias e Safira, Lucas
destaca o valor da disciplina na Igreja de Cristo. Por conseguinte, vejamos
porque o ensino é imprescindível ao povo de Deus.
A DISCIPLINA E SUA NECESSIDADE
Definindo a disciplina. O
que é disciplina senão ensino? Mas possui ela também o seu lado grave: a
correção (Pv 15.10). Seu objetivo é conscientizar-nos quanto às consequências
de nossas atitudes (Gl 6.7). A falta de disciplina pode conduzir à morte. Foi o
que aconteceu a Ananias e a Safira.
A disciplina no Antigo Testamento. Por
intermédio de seus profetas, Deus mostra ao seu povo o valor e a
imprescindibilidade da disciplina (Jó 5.17). Ele requer que todos os seus
filhos sejam ensinados na Lei e nos Profetas (Sl 25.8). A disciplina é tão
preciosa quanto à própria vida (Pv 6.23). Eis o que diz Salomão: “O que ama a
correção ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é um bruto” (Pv
12.1).
Nestes tempos tão difíceis e trabalhosos, nós pais somos
coagidos a não aplicar a disciplina aos nossos próprios filhos. É claro que
também somos contra os maus tratos impingidos às crianças. Mas que estas têm de
ser disciplinadas, não o podemos negar. A recomendação é do próprio Deus: “O
que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv
13.24 — ARA). Por que os educadores contrários à educação cristã, ao invés de
nos constrangerem com as suas impropriedades, não saem em defesa das crianças
abandonadas e prostituídas que fervilham nossas cidades? É necessário e urgente
resgatar a infância abandonada e proporcionar-lhe uma vida digna e segura.
A disciplina em o Novo Testamento. Embora
vivamos sob os termos da Nova Aliança, Deus em nada mudou quanto ao padrão
disciplinar de seu povo. Haja vista o Sermão do Monte. Agora, além de o Senhor
ratificar o sétimo mandamento, por exemplo, requer tenhamos nós um coração puro
(Mt 5.27,28). Por conseguinte, viver sob a lei do Espírito requer uma
disciplina ainda maior.
Por quebrarem a disciplina, Ananias e Safira foram severamente
punidos pelo Senhor.
A OFERTA DE ANANIAS E SAFIRA
Disposto a dedicar-se integralmente ao cumprimento da Grande
Comissão, Barnabé vende a sua propriedade e entrega todo o dinheiro aos
apóstolos. Lucas, ao registrar o fato, realça o desprendimento daquele levita
natural da ilha de Chipre, que haveria de prestar relevantes serviços ao Reino
de Deus (At 4.36,37).
Ananias e Safira, imitando a Barnabé, também vendem a sua
propriedade. Ao contrário deste, o casal retém parte do dinheiro, e repassa o
restante aos apóstolos, como se aquele depósito representasse o valor total da
propriedade. Eles, porém, seriam desmascarados, repreendidos e mortalmente
punidos. Não se pode mentir a Deus.
O pecado contra o Espírito Santo e a Igreja. O
pecado de Ananias e Safira não foi um requinte social como eles supunham;
constituiu-se numa ofensa contra o Espírito Santo (At 5.9). Ajamos, pois, com
muito cuidado, porque o Senhor chamar-nos-á a prestar contas de todas as
palavras frívolas que proferirmos (Mt 12.36).
Se formos disciplinados na Palavra de Deus, jamais cairemos no
erro de Ananias e Safira: mentira, hipocrisia e roubo. Como vem você agindo?
Tem se dado à mentira? Cuidado. Os mentirosos não terão guarida no Reino de
Deus (Ap 22.15).
Uma oferta como a de Caim. Nossa
atitude diante do Senhor é sempre mais importante do que a nossa oferta.
Vejamos a história de Abel e Caim. Ambos trouxeram o fruto do seu trabalho a
Deus. O primeiro teve a sua oferenda aceita, pois justo era o seu coração.
Quanto ao segundo, por ser iníquo, foi rejeitado (Gn 4.6,7). Antes de atentar
para a oferta, o Senhor contempla o ofertante.
Ananias e Safira poderiam ter vendido a propriedade pelo valor
que bem entendesse e haver dado todo o montante, ou parte deste, à Igreja.
Pedro deixou-lhes isso bem patente (At 5.4). Mas como o casal, buscando a
própria honra, não mentiram somente a Pedro, mentiram também ao próprio Deus
(At 5.3).
O EXTREMO DA DISCIPLINA
Ananias e Safira conheciam muito bem a doutrina dos apóstolos e
não ignoravam o Antigo Testamento. Nas sinagogas, ouviam sábado após sábado, a
leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas. Chegaram eles a conhecer a Jesus?
É bem provável. Por conseguinte, não foram eles punidos inocentemente. Ao
mentirem a Pedro, sabiam estarem ofendendo o Espírito Santo. Eles sabiam que
esse pecado era gravíssimo (Mt 12.32).
A sentença de morte. Confrontado
pelo apóstolo Pedro, Ananias viu-se desmascarado. Naquele momento, aliás, vê-se
ele diante do tribunal divino e do Senhor recebe a sentença pela boca do
apóstolo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao
Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava
para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em
teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3,4).
Informa Lucas que, ouvindo a reprimenda de Pedro, Ananias caiu
por terra fulminado. O mesmo aconteceria à sua esposa três horas depois (At
5.10). O casal que contra o Senhor peca unido, unido também perecerá. Não
poderiam eles andar no temor e na disciplina divina?
A maldição é retirada do arraial dos santos. Se
Ananias e Safira não houvessem sido confrontados e punidos, a Igreja de Cristo,
como um todo, sofreria por causa do anátema. Lembra-se do caso de Acã? Quando o
pecado é revelado e a liderança não faz uso da disciplina, segundo os padrões
bíblicos, toda a igreja sofre debaixo da maldição do pecado. Leia com atenção e
temor o capítulo sete de Josué. Tomemos cuidado, pois Deus não mudou. Ele
continua o mesmo. Aliás, vejamos esta advertência de Pedro: “Porque já é tempo
que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual
será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pe
4.17)
“O tolo despreza a correção de seu pai, mas o que observa
a repreensão prudentemente se haverá” (Pv 15.5). A disciplina é uma prova de
amor. Deus requer que seus filhos andem de conformidade com a sua Palavra. Se
errarmos, Ele certamente disciplinar-nos-á. No entanto, cuidado: Deus não se
deixa escarnecer.
Ananias e Safira, simulando uma justiça que não possuíam,
mentiram para o próprio Deus. Por isso foram mortalmente punidos. Andemos,
pois, no temor do Senhor. “O delito de Ananias não foi reter parte do preço do
terreno; poderia ter ficado com tudo se quisesse; seu delito foi tentar
impor-se sobre os apóstolos com uma mentira espantosa unida à cobiça, com o
desejo de ser visto. Se pensarmos que podemos enganar a Deus, fatalmente
enganaremos a nossa própria alma. Como é triste ver as relações que deveriam
estimular-se mutuamente às boas obras, endurecerem-se mutuamente no que é mau!
Este castigo, na realidade foi uma misericórdia para muitas pessoas. Ele faria
as pessoas examinarem a si mesmas rigorosamente, com oração e terror da hipocrisia,
cobiça e vanglória, e a continuarem agindo assim. Impediria o aumento dos
falsos crentes. Aprendamos com isto quão odiosa a falsidade é para o Deus da
verdade, e não somente evitar a mentira direta, mas todas as vantagens obtidas
com o uso de expressões duvidosas e de significado duplo em nosso
falar”.(HENRY, M. Comentário
Bíblico. 1.ed. RJ: CPAD, 2002, p.891)
O Pecado de Acã.“Certamente Acã descobriu que o
pecado é uma emoção passageira. Houve a emoção de obter alguma coisa
secretamente. Ele teve a emoção de conhecer uma coisa que os outros não
conheciam. Ele teve a emoção de ser procurado. Finalmente, chegou a emoção de
ser o centro das atenções, de ser ‘a manchete do dia’. Há pessoas dispostas a
trocar suas vidas por essas compensações.
Mas a emoção teve vida curta. O que ele fizera foi logo
descoberto por todos. O que ele havia escondido foi rapidamente manifesto a
toda a sua nação. Aquilo que ele considerou valioso mostrou-se impotente para
ministrar-lhe. Aquilo que ele teve orgulho tornou-se sua vergonha. Sua alegria
transformou-se em tristeza. Sua emoção momentânea terminou numa morte violenta.
Com ele pereceu tanto aquilo que ele havia roubado quanto o que era
legitimamente seu. Ele recebeu o salário do pecado. Ele foi ‘sem deixar de si
saudades’ (2 Cr 21.20).
Este evento evidencia o princípio de que somente aqueles que
vivem vidas submissas diante de Deus recebem ajuda do Senhor. Acã recusou-se a
se submeter ao plano de Deus. Ele carecia da santidade que daria permanência ao
seu programa de vida.
O fato de que ‘nenhum de vós vive para si e nenhum morre para
si’ (Rm 14.7) é ilustrado pela vida de Acã. Um homem pode contaminar uma
comunidade tanto para o bem como para o mal. Paulo dá a essa ideia um cuidadoso
desenvolvimento em sua carta aos coríntios. Ele conclui: ‘De maneira que, se um
membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado,
todos os membros se regozijam com ele’ (1 Co 12.26).
A vida de Acã também nos ensina que o pecado nunca está oculto
aos olhos de Deus. O Senhor sabe o que os olhos veem, o que o coração deseja e
o que os dedos manipulam. Ele também sabe dos inúteis esforços do homem de
tentar enganá-lo. Mais cedo ou mais tarde, um ser humano deverá encarar seus
atos e prestar contas de todos eles.
Outra verdade importante é encontrada no fato de que, assim que
o pecado foi expiado, a porta da esperança se abriu. O povo sentiu mais uma vez
a segurança de que poderia avançar. Esta verdade continua em ação. Aquele que
aceita o sacrifício de Cristo pelo pecado imediatamente olha para a vida com
esperança e segurança”.(MULDER, C. O. et
al. Comentário
Bíblico Beacon. 1.ed. Vol.2. RJ: CPAD, 2005, p.45)
Assistencia Social.
O diaconato foi instituído a partir de uma contingência. Tudo
aconteceu quando os crentes de expressão grega, inconformados por estarem suas
viúvas sendo preteridas na distribuição diária, puseram-se a murmurar contra os
hebreus. Buscando extinguir a dissensão, propuseram os apóstolos à “multidão
dos discípulos” a escolha de sete homens notáveis por sua reputação, para que
se encarregassem daquele “importante negócio”. Dessa forma, poderiam os
pastores da Igreja dedicar-se à oração e ao ministério da Palavra de Deus. O
que parecia um problema local redundou numa solução universal.
Se evangelizar e fazer discípulos são a incumbência primária da
Igreja Cristã, socorrer aos necessitados não lhe é tarefa secundária.
Aprendamos, pois, com os santos apóstolos a cumprir integralmente a missão que
nos confiou o Cristo de Deus. Tem você se ocupado com os mais carentes? Jesus
não os esqueceu. Ordena-nos o Senhor ainda hoje: “Dai-lhes vós de comer”.
AS DORES DO CRESCIMENTO
No Dia de Pentecostes, quase três mil almas converteram-se ao
Senhor (At 2.14-39). Apesar de um crescimento tão surpreendente, os discípulos
“perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e
nas orações” (At 2.42). O que isso evidencia? A completa dedicação da liderança
ao discipulado e à sã doutrina. Tem você se consagrado à evangelização e ao
ensino? Somente assim pode a sua igreja crescer. Esteja, contudo, preparado
para os incômodos e as dores que acompanham o crescimento. Foi o que
experimentou a Igreja em Jerusalém.
A urgência da assistência social. Em
razão do crescente número de conversos, os apóstolos não mais tiveram condições
de atender devidamente às demandas sociais da Igreja (At 4.4; 6.1). Era
necessário organizar o ministério cotidiano. Se de início não havia necessitado
algum, agora já apareciam as queixas de um segmento muito importante da
irmandade: os gregos. Eram estes, segundo podemos depreender, israelitas
provenientes da Diáspora.
A Igreja em Jerusalém sentia, agora, as dores do crescimento.
Somente as igrejas que não crescem são poupadas de tais desconfortos.
Como está o trabalho de assistência social de sua igreja? Todos
estão sendo socorridos? O ideal é que, em nosso meio, ninguém seja esquecido
(At 4.34).
A murmuração dos gregos. Os
crentes de expressão grega puseram-se a reclamar de que suas viúvas estavam
sendo preteridas na distribuição diária (At 6.1). Fez-se murmuração o que era
queixume. Para esvaziar aquele clima de insatisfação que já começava a
generalizar-se, os apóstolos foram divinamente orientados a instituir o
diaconato. Por que permitir que seja a discórdia espalhada entre os irmãos?
Busquemos a sabedoria do alto. E assim teremos condições de pacificar os ânimos
e manter a unidade do povo de Deus.
A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO
Com a murmuração dos gregos a ressoar-lhes aos ouvidos, os
apóstolos reuniram a “multidão dos discípulos”, objetivando solucionar aquele
problema. Por que deixá-lo avolumar-se e enfermar toda a congregação?
A participação da Igreja nas decisões. Os
apóstolos, convocada a Igreja, propuseram a escolha de sete varões, para se
encarregarem da assistência material e social aos santos. Requeria-se fossem os
candidatos homens de “boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”
(At 6.3). Afinal, iriam eles lidar com o povo de Deus. Em sua Primeira Epístola
a Timóteo, Paulo destaca a importância desse ministério: “Porque os que
servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança
na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).
O ministério diaconal. Apesar de o
capítulo seis de Atos não mencionar uma única vez a palavra “diácono”, não
resta dúvida de que o ofício foi instituído naquela ocasião. É mister ressaltar
o destaque de dois daqueles obreiros: Estêvão e Filipe (At caps. 6, 7 e 8). Não
fossem os diáconos, como haveriam os apóstolos de se dedicarem à edificação do
corpo de Cristo?
Há que se mencionar o diácono Atanásio (295-373) que, na
História da Igreja Cristã, é honrado como o pai da ortodoxia.
Que o Senhor nos dirija na escolha de homens íntegros, sábios e
cheios do Espírito Santo, para que nos auxiliem no exercício do
pastorado.
ASSISTÊNCIA
SOCIAL
Era imperioso aos apóstolos devotarem-se à oração e ao ensino da
Palavra de Deus. Doutra forma, como haveriam de edificar a Igreja na sã
doutrina? Todavia, estavam eles mais do que cientes: as obras de misericórdia
são também importantes. Que os crentes, pois, sobressaiamos igualmente pelas
boas obras (Mt 5.16; At 9.36; Ef 2.10). Não alerta Tiago que a fé sem as obras
é morta? (Tg 2.17). A assistência social na Igreja Cristã não será
menosprezada.
O “importante negócio”. O trabalho
assistencial foi considerado pelos apóstolos um “importante negócio” (At 6.3).
Por isso houveram-se eles com diligência na escolha dos melhores homens para
exercê-lo. Na Igreja de Cristo, o socorro aos necessitados também é visto como
prioridade.
Havendo incumbido os diáconos de zelar pelo socorro aos pobres,
a Igreja Primitiva demonstra ser possível exercer o serviço cristão em sua
plenitude. Em sua despensa havia tanto o pão que desce do céu como o pão que
brota da terra. Que exemplo às igrejas de hoje! A ordem do Senhor não será
esquecida: “Dai-Ihes, vós mesmos, de comer” (Mt 14.16).
Servindo à Igreja de Cristo. Tanto
os doze apóstolos como os sete diáconos porfiaram em servir à Igreja. Os
primeiros com a oração e a Palavra; os segundos, com o ministério cotidiano. Um
não pode subsistir sem o outro. Sanada a dificuldade com a assistência às
viúvas gregas, informa-nos Lucas: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém,
se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam à fé” (At 6.7 — ARA).
“A Comunhão Quebrad.Os crentes se dedicam a formar
uma comunidade de comunhão (At 2.42), que acha expressão em compartilhar as
possessões com os necessitados. Como exemplo positivo de comunhão, Lucas chamou
atenção a Barnabé (At 4.36,37); em contraste, Ananias e sua esposa são exemplos
negativos (At 5.1-11). No capítulo 6, Lucas informa um desarranjo na comunhão
causado pela negligência da comunidade para com suas viúvas gregas. No meio de
tremendo progresso da Igreja, este problema coloca a unidade eclesiástica em
sério perigo. Nesta época, a comunidade cristã consiste em dois grupos: os
judeus gregos (hellenistai,
‘crentes de fala grega’) e os judeus hebreus (hebreaioi, ‘crentes de fala aramaica’). Os
judeus gregos de Atos 6 são crentes que foram fortemente influenciados pela
cultura grega. [...] Os cristãos de fala aramaica são mais fortes nas tradições
religiosas palestinas e mostram mais restrição em atitude para com a lei
judaica e o templo. Sendo mais agressivos na abordagem, os judeus helenísticos
provocavam raiva. Em pelo menos uma ocasião a pregação agressiva de um crente
de fala grega na sinagoga helenista em Jerusalém termina em apedrejamento. Os
judeus helenistas apresentavam o evangelho com tal zelo que eventualmente os
oponentes os compelem a fugir de Jerusalém para salvar a própria vida (At
8.1-3)” (Comentário
Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004,
p.657).
“O Descontentamento Social.Afirma
o eminente teólogo da Universidade de Salamanca Lorenzo Turrado: ‘A queixa dos
helenistas, a julgar pela iniciativa tomada pelos apóstolos, parece que tinha
sério fundamento’. A situação que se desenhava deixou os apóstolos mui
preocupados. Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade
sociais eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11). Não foi por causa da
opressão que o Senhor desterrara a Israel? A palavra de Ezequiel não tolera
dúvidas: ‘O povo da terra tem usado de opressão, e andado roubando e fazendo
violência ao pobre e ao necessitado, e tem oprimido injustamente ao
estrangeiro’ (Ez 22.29). Infelizmente, a questão social continua a ser
descurada por muitos ministros do Evangelho. Acham eles que a desigualdade
social é um problema que cabe apenas ao governo resolver. Mas a Bíblia não
ensina assim. Embora a Igreja de Cristo seja um organismo espiritual e desfrute
da cidadania celeste, ela é vista como uma comunidade administradora de uma
justiça que tem de exceder a do mundo (Mt 5.20). O comentário é de Broadman:
‘Os cristãos têm infligido quase tantas feridas à comunhão quanto os
perseguidores externos, abrigando em si preconceitos raciais, religiosos e de
classe. Esse preconceito leva à discriminação, e a discriminação destrói a
unidade dos crentes. Estas distinções não deviam ter entrado na Igreja, naquela
época, e não devem entrar hoje’” (ANDRADE, C. Manual do Diácono. 1.ed.
RJ: CPAD, 1999, pp.17,18).
As implicações de Atos 6.“Paternalismo. Talvez
a primeira lição que deva ser aprendida é a de que a liderança espiritual da
igreja precisa evitar o paternalismo. A maneira de se desenvolver uma igreja
amadurecida não é impor soluções ‘de cima para baixo’, mas envolver a
congregação na solução do problema, e confiar aos membros um papel
significativo na tomada de decisões.
Confiança. Teria sido tão fácil tornar-se
defensivo e argumentar em quem se deveria ou não colocar a culpa. Em lugar
disso, a congregação concentrou-se no problema e os cristãos de fala aramaica
demonstraram confiança em seus irmãos, ao fazer os cristãos de fala grega
responsáveis pela distribuição a todos.
Prioridades. Os líderes espirituais da
igreja precisam concentrar sua atenção ‘na oração e no ministério da palavra‘
(6.4). Mas as preocupações materiais dos crentes também precisam de atenção. E
aqueles que lidam com as ‘coisas práticas’ precisam ser pessoas ‘cheias de fé e
do Espírito Santo’.
Flexibilidade. Precisamos estar prontos
para reagir às necessidades. Frequentemente, nossas igrejas estão encerradas em
antigos programas ou antigos cargos. Em lugar de procurar com criatividade
satisfazer as necessidades à medida que elas surgem, nós lutamos para manter o
mecanismo da igreja. Este incidente na vida da Igreja Primitiva nos lembra de
que as pessoas são
mais importantes do que as constituições de
nossa igreja, e que a inovação não é uma palavra feia” (RICHARDS, L. O. Comentário Histórico Cultural do Novo
Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.263-64).
Quando a Igreja de Cristo é perseguida
eremos que os crentes da Igreja Primitiva enfrentaram forte
oposição por parte das autoridades, todavia, aqueles irmãos não deixaram de
testemunhar e proclamar o evangelho de Cristo. Eles não tinham suas vidas por preciosas,
por isso, não temiam testemunhar de Jesus. Os crentes demonstravam, por
intermédio do testemunho pessoal, o que Jesus havia feito em suas vidas. Não
podemos nos esquecer de que fomos chamados para sermos testemunhas de Cristo.
Muitas são as oportunidades que o Senhor tem nos dado para proclamarmos sua
Palavra. Que não venhamos a ficar intimidados, deixando de testemunhar de
Cristo, mesmo diante das críticas, maus exemplos de alguns ou
qualquer tipo de perseguição. Sigamos de perto a postura dos
primeiros crentes.
CONSEQUÊNCIAS DO MARTÍRIO DE ESTÊVÃO
• Jornada evangelística de
Filipe (8.4-40); • A conversão de Saulo
(9.1-30);
• A viagem missionária de
Pedro (9.32—11.18);
• A fundação da Igreja em
Antioquia da Síria (11.19).
Semeado em Jerusalém, o sangue de Estêvão frutifica a vocação
universal da Igreja de Cristo. O que parecia mais uma seita judaica extrapola
as fronteiras de Israel como Reino para conquistar o império. Nesse processo,
Saulo de Tarso antagoniza um importante papel. Perseguindo, espalha a chama do
evangelho. Mais tarde, já converso e perseguido, leva esta mesma flama até aos
extremos da terra.
O martírio de Estêvão não foi em vão. Mais tarde, testemunharia
Tertuliano (155-222), um dos mais importantes apologetas eclesiásticos: “Quanto
mais nos esmagardes, tanto mais cresceremos, que é semente o sangue dos
cristãos”.
Neste momento, a Igreja de Cristo é perseguida em todo o mundo.
Sim, perseguem-nos não apenas física, mas cultural e institucionalmente. À
semelhança dos cristãos primitivos, quanto mais tentam reprimir-nos localmente,
mais universalmente nos espalhamos.
OS EFEITOS DA MORTE DE ESTÊVÃO
O teólogo inglês Matthew Henry (1662-1714), um dos maiores
comentaristas das Sagradas Escrituras, escreve mui sábia e apropriadamente:
“Algumas vezes Deus levanta muitos ministros fiéis sobre as cinzas de um
deles”. Haja vista o martírio de Estêvão. Se aos olhos humanos era uma simples
execução, à vista divina aquela morte foi o caminho que conduziu muitos à vida,
inclusive um homem fero e irreconciliável como Saulo de Tarso. Somente a
história haveria de avaliar os efeitos do assassinato daquele justo.
Sobre Paulo. Como ouvir um discurso
como o de Estêvão e não curvar-se às evidências do evangelho? Embora teimasse
em não reconhecer a Jesus como o Messias de Israel, Saulo de Tarso não pôde
ficar indiferente às palavras e ao martírio daquele santo. É o que depreendemos
destas palavras do próprio Senhor: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura
coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Aliás, o mesmo Saulo o
confessa: “E, quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também
eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as vestes dos que o
matavam” (At 22.20).
A evangelização de Saulo teve início com o sermão de Estêvão, em
Jerusalém, sendo complementada, em Damasco, por Ananias. Muito em breve o que
localmente perseguira a Igreja, universalmente haveria de expandi-la de
Antioquia a Roma.
Sobre a Igreja. Com os termos da Grande
Comissão a ecoar-lhes nos ouvidos, sabiam os santos apóstolos que a Igreja não
poderia circunscrever-se a Jerusalém (Mt 28.19,20). Mas quando sair à Judeia?
Quando alcançar Samaria? E quando atingir os mais distantes lugares da terra?
Estando ainda estas perguntas por se responder, eis que o martírio de Estêvão
precipita a dispersão da Igreja de Jerusalém.
Ao relatar o evento, escreve Lucas: “Mas os que andavam
dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4). Por conseguinte,
quando aqueles piedosos varões puseram-se a sepultar o corpo de Estêvão, não
sabiam eles estarem, na verdade, semeando uma semente que, de
imediato, multiplicar-se-ia dentro e fora dos termos de Jacó. Não foi
exatamente isto o que ensinara o Senhor: “Na verdade, na verdade vos digo que,
se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer,
dá muito fruto” (Jo 12.24). Mais tarde, confirmaria o doutíssimo Tertuliano as
palavras do Cristo: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”.
As perseguições à Igreja não ficaram no passado. Este sistema,
que jaz no maligno, tudo faz por sufocar a Noiva do Cordeiro. Está você
preparado a defender a sua fé? Morreria por amor a Cristo? Não podemos fugir a
essa pergunta. Que a nossa confissão seja tão firme quanto à de Jan Hus
(1369-1415), reformador protestante da antiga Boémia: “Com a maior alegria
confirmarei com meu sangue a verdade que tenho escrito e pregado”.
QUANDO A IGREJA É PERSEGUIDA
Quem ainda não leu o excelente livro Torturado por Amor a Cristo?
Escrito pelo pastor romeno Richard Wurmbrand (1909-2001), mostra-nos o quanto a
Igreja de Cristo sofreu nos países comunistas. Atrás da cortina de ferro, eram
os cristãos perseguidos física, cultural e institucionalmente.
Perseguição física. Neste exato
momento, muitos são os missionários, pastores e leigos que, torturados e até
mortos por causa da santíssima fé, fazem boa e ousada confissão ante o verdugo
(1 Tm 6.13). Se pudéssemos ouvir-lhes o clamor! Oremos por nossos irmãos na
China, na Coreia do Norte, em Cuba e nos países muçulmanos. Em cada uma dessas
nações, há uma igreja de Esmirna (Ap 2.8-11). Deixemos, pois, o conforto de
Laodiceia e saíamos a espalhar a boa semente do Evangelho.
Perseguição cultural. Embora vivamos num
contexto cultural, não podemos nos conformar, sob hipótese alguma, com a
cultura do presente século (Rm 12.1,2). Então, como devemos agir? Se, de fato,
somos o sal da terra e a luz do mundo, transformemos a cultura que nos busca
envolver através da proclamação da Palavra de Deus (Mt 5.13).
As manifestações culturais deste mundo apregoam sutil e quase
que, imperceptivelmente, o relativismo moral, a substituição dos valores
bíblicos por uma ética leniente e permissiva e a entronização do homem no lugar
que pertence exclusivamente a Deus. Como não podemos nos conformar com tais
coisas, somos alijados da vida cultural da sociedade. Não agiam assim os gregos
em relação ao Evangelho (1 Co 1.22-24). O que os inquisidores deste mundo não
sabem é que a loucura de Deus é mais sábia do que os homens (1 Co 1.25).
Perseguição institucional. Os
interesses do Reino de Deus jamais se coadunarão com os deste mundo. Por isso,
levantam-se alguns potentados, buscando amordaçar a Igreja de Cristo. Tentam
eles, sob o apanágio de um humanitarismo falso e aparatoso, impedi-la de
protestar, por exemplo, contra o homossexualismo. Outros buscam descriminalizar
práticas como o aborto e o uso de drogas. E outros ainda afadigam-se em varrer
das escolas qualquer vestígio do criacionismo bíblico.
Diante de todos esses ataques institucionais, lembremo-nos da
exortação do pastor batista norte-americano, William S. Plumer (1759-1850).
Alerta-nos ele: “Perseguição não é novidade... a ofensa da cruz jamais
cessará”.
COMO ENFRENTAR A PERSEGUIÇÃO
Assim devemos, portanto, enfrentar a perseguição:
Evangelizando e fazendo missões. Se
bem atentarmos, constataremos: a Igreja só começou a evangelizar e a fazer
missões depois da perseguição que lhe moveram as autoridades judaicas após a
morte de Estêvão (At 8.4,5; 13.1-3). O que estamos esperando? É hora de
atravessarmos as fronteiras com o Evangelho de Cristo.
Apresentando uma apologia de nossa fé. Contra
a perseguição cultural e institucional, a recomendação de Pedro é clara e
urgente: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando
sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança
que há em vós” (1 Pe 3.15 — ARA).
Conservando nossa identidade como povo de Deus. Somos
perseguidos, porque somos um povo especial, zeloso e de boas obras (Tt 2.14).
Enfim, representamos tudo o que o mundo odeia. Nós, luz; eles, ainda em trevas.
Porfiemos por uma vida santa e justa.
O Diabo tudo fez por matar a Igreja em seu nascedouro. O que ele
não sabia, ou fingiu esquecer, é que as portas do inferno jamais prevalecerão
contra a Igreja de Cristo. O Diabo não pôde emudecer a Filipe nem a Paulo. Como
diria o teólogo A. W. Tozer (1897-1963): “O fogo de Deus não pode ser apagado
pelas águas da perseguição dos homens”.
“Os escritos de Basílio sobre a perseguição de Deoclécio
dão uma ideia geral do que foram as crueldades e os horrores daqueles dias: ‘As
casas dos cristãos eram deixadas em ruínas; seus bens, pilhados. Seus corpos
caíam nas mãos dos ferozes lictores, que os dilaceravam como bestas selvagens,
e arrastavam as matronas pelos cabelos através das ruas, insensíveis às
súplicas por clemência, viessem elas dos idosos ou daqueles de tenra idade. Os
inocentes eram submetidos a tormentos reservados apenas aos mais vis
criminosos; os calabouços eram lotados com habitantes dos lares cristãos, que
agora jaziam desolados; os desertos sem caminhos e as cavernas das florestas
enchiam-se de fugitivos, cujo único crime fora a adoração a Jesus Cristo’”
(REILLY, A. J. Os
Mártires do Coliseu. 1.ed. RJ: CPAD, 2005, p.38).
A
conversão de Paulo
As autoridades religiosas de Jerusalém outorgaram a Saulo cartas
que lhe garantiam o direito de prender os cristãos. Todavia, no caminho de
Damasco, Saulo teve um encontro memorável com Jesus. Este encontro mudou
radicalmente sua vida. Diante do Rei dos reis, Saulo, o perseguidor
de cristão, se prostra. Um dia, todos terão que se curvar diante de Jesus. As
convicções religiosas de Saulo também são lançadas ao chão naquele momento.
Embora cego, Saulo sai daquele encontro transformado e “enxergando” a
realidade! Esse novo homem ficou três dias sem comer ou beber nada, certamente
pensando em tudo que lhe aconteceu. Mais tarde Paulo aprendeu o que é padecer
pelo Senhor. Por intermédio desse “vaso escolhido” a igreja tornou-se
basicamente gentia.
RESUMO DA VIDA DE PAULO
• Nascido em Tarso,
Capital da Cilícia (22.3);
• Fariseu (23.6);
• Cidadão romano
(22.25-28);
• Fazedor de tendas
(18.3);
• Aluno de Gamaliel
(22.3);
• Guardava a Lei (26.5);
• Um encontro com Jesus
mudou sua vida (9);
• Foi batizado (9.18);
• Suas últimas palavras (2
Tm 4.6-8).
Paulo é considerado, depois de Jesus, o personagem mais
importante da historia da Igreja Cristã (At 24.5). Ele escreveu quase a metade
dos livros do Novo Testamento e foi responsável direto pela evangelização dos
gentios. Dezessete dos vinte e oito capítulos de Atos dos Apóstolos são
dedicados à conversão e ao ministério do apóstolo dos gentios (At 9;
13-28).Sabemos mais a respeito de Pauto do que dos demais apóstolos.
Aprendamos, pois, com a vida e a obra de Paulo!
SAULO DE TARSO
Na comunidade judaica, Paulo era conhecido por um nome bem
hebreu: Saulo (At 9.1,4,11). Ele provinha de uma família benjamita que, apesar
de viver na Diáspora, era mui fiel à tradição (Fp 3.5). Tendo em vista
sua formação cultural e religiosa; mostrou-se mais do que
hábil para atuar como o apóstolo dos gentios.
A formação cultural de Paulo. Instruído
aos pés de Gamaliel (At 22.3), Saulo pertencia ao partido religioso mais
conceituado do Judaísmo — os fariseus (At 26.5; Fp 3.5). Ele conhecia profunda
e intimamente o Antigo Testamento (Rm 1.17; 3.4,5,10-18; 9.6-33), as tradições
de seu povo (At 26.24: 28.17,18; Gl 1.13-14) e a língua hebraica (At 22.1,2).
Era tão bem versado no meio religioso de Israel que, dos principais sacerdotes,
recebera autorização para perseguir os discípulos de Cristo (At 26.10).
As evidências indicam que Paulo cursou a universidade de Tarso.
Haja vista o seu domínio do idioma grego e dos autores clássicos, dos quais
cita pelo menos dois: Aratos e Epimênides (At 17.28; Tt 1.12). Cidadão romano,
falava também mui provavelmente o latim.
Paulo, cidadão romano. Natural
de Tarso, na Cilícia (At 9.11; 21.39; Gl 1.21), Paulo tornara-se, por
nascimento, cidadão de Roma, pois a cidade era província romana (At 22.25-29).
Naquele tempo, a nacionalidade romana era adquirida de três maneiras: por
direito de nascença, por concessão imperial e por aquisição pecuniária (At
22.28; 23.27; 24.7,22).
Embora conhecesse muito bem os seus direitos como romano (At
22.25-29; 25.10-12,21,27), era-lhe a cidadania celeste (Ef 2.19; Fp 3.20) mais
importante do que os privilégios concedidos pelos homens. Esta é a razão pela
qual renunciou a todas as regalias terrenas para assumir a cruz de Cristo (Fp
3.7-9). Como tem agido você como cidadão do céu?
A CONVERSÃO DE PAULO
A conversão de Paulo está narrada em três capítulos de Atos dos
Apóstolos (9.3-18; 22.6-21 e 26.12-18). Vejamos os relatos segundo o
desenvolvimento cronológico dos fatos.
O Encontro com Jesus. Saulo
solicita autorização aos principais sacerdotes, afim de perseguir os discípulos
de Cristo que se achavam em Damasco (At 9.1-2; 22.5; 26.10-11). Já próximo da
cidade, ele e seus companheiros são envolvidos subitamente por uma luz do céu,
muito mais forte que o sol (At 9.3; 22.6; 26.13). E todos caem por terra (At
9.4; 22.7; 26.14). Em língua hebraica, Jesus deu-se-Ihe a conhecer (At
26.14,15).
Os que o acompanhavam não viram a ninguém. Aturdidos, ouviram,
sim, a voz, mas não entenderam a mensagem (At 9.7; 22.9; cf. Jo 12.28-30).
Paulo, então, é confrontado por Jesus Cristo (At 9.5; 22.7; 26.14,15) e por
este é comissionado a levar o evangelho tanto aos filhos de Israel como aos
gentios (At 26.16-18). Em seguida, o Senhor orienta-o a seguir viagem até
Damasco, onde receberia novas instruções (At 9.6; 22.10).
Erguendo-se, Saulo nada enxerga. Conduzido por seus auxiliares
até Damasco, na cidade permanece durante três dias sem nada ver, sem nada comer
e sem nada beber (At 9.8,9; 22.11).
Ananias visita a Paulo. Enquanto isso, o Senhor
em visão aparece a Ananias, homem piedoso e justo que morava em Damasco, e
ordena-lhe que vá à casa de Judas, que ficava na rua Direita, e pergunte “por
um homem de Tarso chamado Saulo”. Naquele instante, este orava e via numa visão
a Ananias que, entrando em seus aposentos, impunha-lhe as mãos para que
voltasse a enxergar (At 9.10-12; 22.12).
Ananias, então, retruca. Sabe ele qual o propósito de Paulo na
cidade (At 9.13-14). O Senhor, porém, afiança-lhe que o perseguidor será
doravante um vaso escolhido para tornar o evangelho conhecido em todo o mundo
(At 9.15-16; 26.16-18). Imediatamente Ananias vai ao encontro de Saulo e,
impondo-lhe as mãos, confirma a comissão que ele recebera do Senhor,
recobra-lhe a visão e batiza-o (At 9.17-18; 22.13-16).
Saulo, de perseguidor a perseguido. Já
refeito, Saulo busca congregar-se com os irmãos em Damasco (At 9.19). Apesar
dos temores iniciais, os discípulos acabam por estender-lhe a destra de
comunhão. Em ato contínuo, põe-se ele a testemunhar de Cristo a todos nas
sinagogas da cidade (At 9.20). Os judeus perturbam-se com a sua conversão (At
9.21-22). E intentam tirar-lhe a vida (At 9.23). Tal plano chega ao
conhecimento de Saulo (At 9.23-24). Para o livrarem da cilada, os irmãos
descem-no de noite num cesto pelo muro (At 9.25). E ele segue em direção a
Jerusalém (At 9.26; 22.17).
PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE PAULO
Os objetivos de Cristo ao confrontar Saulo na estrada de Damasco
são desenvolvidos nas três narrativas de sua conversão de Atos dos Apóstolos
(9.3-18; 22.6-21; 26.12-18).
Conhecer a vontade de Deus. Saulo
teria de conhecer realmente a vontade de Deus concernente a Israel, a Igreja e
ao mundo (At 22.14,15). Mais tarde, em sua Epístola aos Efésios, revela a sua
compreensão concernente à Igreja de Deus, formada não por uma nação, mas
constituída igualmente por judeus e gentios. Tudo isso revelou-lhe o próprio
Senhor. Tem você procurado saber a vontade divina para a sua vida?
Tornar-se ministro e testemunha de Jesus. Consciente
de sua vocação, põe-se Paulo a testemunhar de Cristo não somente diante dos
gentios, mas também perante Israel. Faz ele apologia do evangelho ante os reis
e filósofos. É um verdadeiro campeão de Deus (At 9.15; 22.15,21; 26.16-18).
Como está o seu testemunho cristão? Acha-se preparado para defender a sua fé?
Sofrer a favor de Cristo e do evangelho. Em
virtude de sua audácia, muito sofre por amor a Cristo (Gl 6.17). O que dantes
perseguira a Igreja de Cristo, vê-se de repente perseguido por causa deste
mesmo nome. No capítulo 11 de sua Segunda Epístola aos Coríntios, discorre ele
acerca das muitas perseguições por ele sofridas, quer por parte de seus
patrícios, quer por parte dos gentios. Mesmo perseguido, o evangelho foi
poderosamente anunciado através de suas
A conversão e vocação de Paulo ensinam-nos que Deus chama e
capacita a quem ele quer para ministérios específicos. Ele transforma o mais
terrível dos homens num “vaso escolhido”, a fim de que proclame o seu Evangelho
até aos confins da terra.Você foi chamado para anunciar a mensagem da cruz?
Obedeça, já. É o tempo de segar.
A conversão de Saulo.“Saulo (posteriormente
chamado de Paulo, o equivalente grego do nome ‘Saulo’), que é mencionado pela
primeira vez como tendo participado do apedrejamento de Estêvão era tão zeloso
das suas crenças religiosas que iniciou uma campanha de perseguição contra todos
os que acreditavam em Cristo, todos que eram do ‘Caminho’ (versão RA) (veja o
testemunho de Paulo em Filipenses 3.6). A expressão ‘o Caminho’ se referia ao
‘caminho do Senhor’ ou ‘o caminho da salvação’. Por que os judeus em Jerusalém
queriam perseguir os cristãos a uma distância tão grande como Damasco? Há
várias possibilidades: (1) para prender os cristãos que tinham fugido; (2) para
evitar a chegada do cristianismo a outras cidades importantes; e (3) para
impedir que os cristãos causassem qualquer problema com Roma. [...] Damasco
[era] uma cidade comercial importante, estava situada cerca de 280 quilômetros
a nordeste de Jerusalém, na província romana da Síria. [...] Saulo pode ter
pensado que ao eliminar o cristianismo em Damasco, ele poderia impedir a sua
disseminação a outras regiões. Já próximo do seu destino, quase ao meio-dia,
quando o sol estava a pino [...], Saulo repentinamente se encontrou cercado por
um resplendor de luz. Embora o texto não afirme abertamente que Saulo viu a
Cristo, este fato fica implícito, uma vez que ver o Senhor ressuscitado era um
requisito para o apostolado do Novo Testamento (1 Co 9.1; 15.8)” (Comentário do Novo Testamento
Aplicação Pessoal. Vol.1. 1.ed. RJ: CPAD, 2009,
pp.662-63).
O Evangelho propaga-se entre os
gentios
Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Criador de tudo
quanto existe, a todos preserva pela sua bondade e justiça (At 17.25-28). Ele
ama a todos indistintamente e deseja a salvação de toda a humanidade (Jo 3.16)
através de Jesus Cristo (Mt 1.21; At 4.12). Esta é a mensagem que os apóstolos
de Nosso Senhor proclamaram aos gentios. No Filho, todos somos amados pelo Pai,
sem quaisquer distinções. Está você também disposto a anunciar o evangelho até
aos confins da terra? Há muita terra ainda a ser conquistada.
OS GENTIOS NO ANTIGO TESTAMENTO
Toda a humanidade descende de um único casal a quem Deus formara
segundo a sua imagem e semelhança (Gn 1.27; 5.2). Embora criado santo, justo e
bom para a glória do Senhor (Gn 5.1; Sl 115.1), o homem desobedeceu-lhe as
ordens e veio a conhecer experimentalmente o pecado. Com a sua apostasia, fez
com que a maldade tomasse conta do mundo (Gn 4.8,23). A Deus, então, não restou
outra alternativa senão destruir a primeira civilização através de um dilúvio
universal (Gn 6-9).
Um novo começo com Noé. Apenas
Noé e a sua família salvaram-se daquele cataclismo. Por intermédio dos filhos
do piedoso e santo patriarca: Jafé (Gn 10.2-5), Cam (Gn 10.6-20) e Sem (Gn
10.21-31), vieram a formarem-se as nações com as suas respectivas geografias
(Gn 10 - 11). Infelizmente, a humanidade porfiou em desobedecer a Deus (Gn
11.1-9). Em meio a essa desolação espiritual e moral, Deus santifica um
descendente de Sem, Abraão, para que dele uma nova nação fosse formada (Gn
12.1-3). Em Abraão, fomos todos abençoados.
A exclusividade dos descendentes de Abraão (Gn 15.5,6). Ao
chamar Abraão, o Senhor dá início à história de Israel (Gn 12.1-3). Seu
propósito à nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la uma propriedade
peculiar, um reino sacerdotal e um povo santo (Êx 19.5,6). Ele a constituiu
para que esta lhe fosse uma possessão distinta e particular (Is 44.1-2), a fim
de que, por seu intermédio, alcançasse os gentios.
A partir de então, todas as demais etnias passaram a ser conhecidas
como gôyim —
gentios (Gn 15.18-21). Isso não significa, porém, que Deus não ame as demais
nações. Ele as ama, sim! E de tal maneira amou-as, que deu o seu Único Filho,
para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Além do
mais, em Abraão foram benditas todas as nações da terra (Gn 12.3).
OS GENTIOS EM O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento faz questão de realçar o amor de Deus não
somente por Israel, mas por todos os povos. João 3.16 deixa isso bem claro. Não
resta dúvida: a salvação vem dos judeus, mas não se restringe aos judeus, mas
através dos judeus deve alcançar a todos os não-judeus.
Nos Evangelhos. Nos evangelhos há várias
referências aos gentios (Mt 6.7,32: Mc 10.33; Lc 12.30; 18.32). Descritos às
vezes com certa reserva (Mt 20.19; Mc 10.33), são eles vistos como a grande
seara a ser alcançada pelos apóstolos que, no cumprimento da Grande Comissão,
deixariam Jerusalém e a Judeia para evangelizar e ensinar todas as nações (Mt
28.18-20). Aliás, Isaías já destacava a missão do Cristo entre os gentios (Is
42.1-4). Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus agraciou
alguns destes como a mulher cananeia (Mt 15.21-28) e o centurião (Lc 7.1-10).
Nos Atos dos Apóstolos. Embora Atos 1.8
estabeleça a obrigatoriedade da missão entre os gentios, somente no capítulo 9
e versículo 15, após a conversão de Paulo, é que se declara aberta e
enfaticamente a evangelização das nações (ver At 13.44-47). A resistência
inicial dos apóstolos em discipulá-Ios (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio,
sua família e demais assistentes, recebem o batismo com o Espírito Santo (At
10.44-48). O fato trouxe perplexidade no colégio apostólico (At 11.1-3,18), mas
após a apologia de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a Igreja glorificou a Deus
pelo fato de os gentios serem também objeto do amor de Deus (At 10.45).
Missão e Salvação entre os Gentios. Se
Pedro, com o evangelho da circuncisão, é proeminente nos capítulos de 1 a 12 de
Atos, nos capítulos de 13 a 28, destaca-se Paulo com o evangelho da incircuncisão
(Gl 1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, o segundo aos gentios (At
13.44-47). Trata-se, porém, de um só evangelho — o evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Paulo estava consciente de que fora chamado por Deus para
anunciar o evangelho aos gentios (At 9.15), sem os entraves da lei (At
15.19,28,29; Rm 4.9-16). Em suas viagens missionárias, não foram poucos os
gentios que se converteram ao Senhor (At 11.1,18) e de bom grado ouviram a
exposição da graça divina (At 13.42).
Você se preocupa com a evangelização transcultural? Se você não
foi chamado ao campo, coopere financeiramente com a Obra Missionária e ore
pelos que se acham além-fronteira falando do amor de Deus. A responsabilidade
pelo “Ide” também é sua.
JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ
A Igreja de Deus. Ao defender a
difusão do Evangelho entre as nações, afirmou Pedro: “[...] Deus visitou os
gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (At 15.14). Esse povo é a
Igreja formada por judeus e gentios em Cristo (Rm 9.24-33). De ambos, fez Ele
um só povo, derribando a parede de separação que estava no meio, e, pela cruz,
reconciliou ambos com Deus em um corpo (Ef 2.14-16).
Dessa maneira, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5) que os
gentios não são mais estrangeiros (gôyim)
e nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22;
1 Pe 2.5), co-herdeiros e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho
(Ef 3.6).
Expansão da Igreja entre os gentios. Através
de suas viagens missionárias, Paulo propagou o evangelho entre os povos e
culturas conhecidos naqueles dias (Rm 15.19,20). Em várias regiões, estabeleceu
ele igrejas constituídas notadamente por gentios (Rm 16.4).
A evangelização dos povos é o maior desafio da igreja moderna. A
responsabilidade é nossa. O Senhor confiou-nos a Grande Comissão para que, sem
remissões, alcancemos os confins da terra. Ele deseja que todos os gentios
sejam salvos. Você sabia que muitos povos ainda não ouviram falar de Jesus?
Como responderá você a esse grande desafio? Se o Senhor o chama à Obra
Missionária, responda prontamente: “Eis-me aqui, Senhor. Envia-me a mim”.
“Israel e a Igreja.Nos capítulos iniciais
de Atos dos Apóstolos, a recepção judaica à mensagem do evangelho foi poderosa
e inquietou os líderes judaicos. Mas, depois, iniciou-se a reação e a
perseguição judaicas para que a Igreja se dispersasse. Em alguns locais, a
mensagem foi tirada da sinagoga e oferecida diretamente aos gentios que
responderam de forma favorável (At 13.46; 18.6; 28.28). Esse padrão híbrido de
recepção judaica, perseguição e busca dos gentios foi comum, em especial, no
ministério de Paulo. Os apóstolos iniciaram na sinagoga, pois criam que a
mensagem de Cristo era também para os de Israel. As igrejas locais
desenvolveram-se por necessidade de sobreviver em face da rejeição. Essas
realidades fizeram com que Lucas, em Atos dos Apóstolos, falasse de forma
reiterada sobre os mensageiros da Igreja ‘se voltarem para os gentios’ e
‘advertirem Israel’. Esses temas, com frequência, aparecem lado a lado e
dominam o último terço do livro de Atos dos Apóstolos. Eles mostram que a
Igreja não era Israel e que essa distinção tornou-se uma realidade do ponto de
vista histórico” (ZUCK, R. B., et
al. Teologia
do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, pp.
160-61).
“A inclusão dos Gentios na Única e Nova Humanidade em
Cristo (Ef 2.13-18).Paulo continua a descrever como a obra da
redenção torna as pessoas um só povo em Cristo. O verso 13 começa com duas
frases importantes: ‘Mas, agora’ que aparece em contraste com ‘antes’ (v.11) e
‘naquele tempo’ (v.12); e ‘em Cristo Jesus’, que aparece em contraste com ‘sem
Cristo’ (v.12). Essas duas expressões enfatizam como a situação dos gentios
seria drasticamente modificada, de estarem ‘longe’ para chegarem ‘perto’. Essa
nova aproximação de Deus é tanto ‘em Cristo Jesus’ como ‘pelo sangue de
Cristo’. Essa última se refere ao evento histórico da morte de Jesus na cruz; e
a primeira está relacionada à conversão dos infiéis e sua presente união com
Cristo. Os cinco versos seguintes explicam o que foi alcançado pela morte
redentora de Cristo na cruz.
Os versos 14-18 revelam o âmago da mensagem de reconciliação de
Paulo, e como Deus deu início ao ser eterno plano de reconciliação cósmica
(embora não universal) (1.10). A palavra principal nessa passagem é paz, e ela aparece quatro
vezes (vv.14,15, e duas vezes no verso 17).
O verso 14 começa com uma declaração enfática: ‘Porque ele
[Cristo] é a nossa paz’. Cristo, e somente Cristo, nos deu a solução para esse
problema que infesta a raça humana, isto é, a separação de Deus e de outras
pessoas. Ele é a Reconciliação do povo com Deus e a Reconciliação das pessoas,
umas com as outras. Assim, o evangelho torna-se uma mensagem de reconciliação
(2 Co 5.17-21). Por causa de seu sangue redentor (2.14), nesse ponto de Efésios
Paulo anuncia, em dois sentidos, o próprio Cristo Jesus como sendo a ‘nossa
paz’:
Como pecadores, Ele nos reconcilia com Deus pela cruz
(v.16) e
Reconcilia grupos mutuamente hostis entre si (tais como
judeus e gentios) e ‘de ambos os povos faz um’ (v.14b; também vv.15-18).
A reconciliação é o tema central desta passagem. Nada, a não ser
o evangelho, poderá nos oferecer, genuinamente, a paz com Deus (Rm 5.1), ‘e
nada, a não ser o evangelho, poderá remover as barreiras que dividem a
humanidade em grupos hostis em sua própria época’ (Bruce, 1961, 54). A paz
entre judeus e gentios exigia a destruição da ‘parede de separação que estava
no meio’ (v.14c). Nenhuma distinção de cor, conflito étnico, separação por
classes ou divisão política era mais absoluta que a barreira entre judeus e
gentios no primeiro século d.C. Bruce acrescenta: ‘O maior triunfo do evangelho
na era apostólica foi que ele venceu essa antiga e longa desavença e permitiu
que judeus e gentios se tornassem verdadeiramente um único povo em Cristo’” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004, pp.1219-20).
O
primeiro Concílio da Igreja de Cristo
A igreja de Jerusalém corria o risco de se transformar num
movimento religioso como outro qualquer da Judeia. Se não fosse a sábia decisão
dos Apóstolos, dos líderes e da comunidade palestínica, a Igreja de Cristo
estaria fadada a um fortuito fracasso já em seus primórdios. Porém, o Espírito
Santo conduziu o Concílio de Jerusalém, abalizando-o por uma sábia decisão:
“Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além
destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos,
bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais
ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde” (At 15.28,28 —
ARA).
O CONCÍLIO DE JERUSALÉM
Contexto.A conversão dos gentios; a
tensão entre judeus e gentios; a insistência dos crentes judaizantes
tradicionalistas para que os gentios adotassem o estilo de vida judaico; o
combate violento de Paulo contra o evangelho judaizante; a necessidade de uma
resolução que legislasse sobre o tema.
A questão levantada.Para os gentios serem salvos,
era necessário se tornar um judeu? Atualmente, é necessário alguma outra coisa,
fora de confessar a Cristo, para ser salvo?
O debate.De um lado os fariseus cristãos
apoiavam a visão dos judaizantes; do outro, Paulo e Barnabé enfatizavam que
Cornélio e sua família foram aceitos por Deus como gentios.Em harmonia com as
Escrituras, a contribuição do apóstolo Tiago foi preponderante para a resolução
apostólica em conjunto com a igreja: 1) não se devia pedir aos gentios que
adotassem a “cultura” judaica, pois isto “perturbaria” (15.19) a liberdade em
Cristo; 2) As recomendações estabelecidas foram: não comer carne sacrificada a
ídolos; não ingerir sangue e não comer carne sufocada; não praticar relação
sexual ilícita. Estas resoluções deixam patentes a verdadeira liberdade que há
em Cristo Jesus e o verdadeiro princípio de respeito à vida que Deus exige de
nós!
Sob as instâncias de Paulo e Barnabé, os apóstolos convocam o
Concílio de Jerusalém, para tratar de uma questão que vinha perturbando os
crentes gentios: Deveriam estes também observar os costumes e ritos judaicos?
Isto porque, “alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se
vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (At
15.1).
As decisões desse concílio, realizado no ano 48, foram mais do
que vitais à expansão do Cristianismo até aos confins da terra.
O QUE É UM CONCÍLIO
Definição. Originária do vocábulo
latino concilium,
a palavra concílio significa conselho, assembleia. O concílio, por conseguinte,
é uma reunião de representantes da Igreja, cujo objetivo é deliberar acerca da
fé, doutrina, costumes e disciplina eclesiástica.
Os concílios no Antigo Testamento. O
primeiro concílio da velha aliança deu-se quando Moisés congregou os anciãos de
Israel para declarar-lhes o plano de Deus para libertar os hebreus do Egito (Êx
4.29). A partir daí, muitos foram os concílios convocados quer pelos reis, quer
pelos profetas, para tratar das urgências nacionais e das crises que surgiram
ao longo da história de Israel no Antigo Testamento (2 Cr 34.29: Ed 10.14; Ez
8.1).
Os concílios em o Novo Testamento. Os
apóstolos reuniram-se em três ocasiões distintas, para decidir sobre pendências
na comunidade cristã. A primeira vez para eleger Matias em lugar de Judas
Iscariotes e aguardar a chegada do Consolador; a segunda para instituir o
diaconato; e a terceira, para discutir as imposições que os judaizantes
buscavam impor sobre os cristãos gentios (At 1.12-26; 6.1-15; 15.6-30).
A IMPORTÂNCIA DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM
A terceira reunião dos apóstolos, que viria a ser conhecida como
o Concílio de Jerusalém, foi tão importante e vital à Igreja de Cristo que dela
dependia o futuro do Cristianismo. Se os apóstolos houvessem cedido à pressão
dos judaizantes, a religião do Nazareno extinguir-se-ia em mera seita judaica.
Mas os dirigentes da Igreja, instrumentalizados pelo Espírito Santo,
houveram-se com sabedoria e firmeza, possibilitando que o Reino de Deus,
transcendendo as fronteiras de Israel, se universalizasse até aos confins da
terra.
O Concílio de Jerusalém foi modelar desde a convocação até as
suas derradeiras decisões.
Convocação. O Concílio de Jerusalém
foi convocado pelos apóstolos sob as instâncias de Paulo e Barnabé. Enviados
pelas igrejas de Antioquia, Síria e Cilícia, requeriam eles fosse tomada uma
resolução urgente quanto a este problema: deveriam os gentios observar também
os costumes e ritos judaicos, incluindo a circuncisão?
Presidência. Sendo a figura de Pedro
preponderante entre os santos da circuncisão, conclui-se tenha ele presidido o
Concílio de Jerusalém. Em todos aqueles acalorados debates, o apóstolo agiu com
sabedoria, moderação. Tudo fez por preservar a unidade da Igreja no Espírito
Santo.
Debates. As discussões são
acaloradas. Extremados na defesa do farisaísmo, exigiam os judaizantes: “É
necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (At
15.5 — ARA).
Em seguida, Pedro levanta-se e põe-se a historiar como os
gentios, por seu intermédio, vieram a converter-se a Cristo. Para calar a boca
aos adversários, indaga o apóstolo: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo
sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem
nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também
aqueles o foram” (At 15.10,11 — ARA).
Depois da exposição de Pedro, os também apóstolos Paulo e
Barnabé tomam a palavra. Faz Lucas esta observação: “Então toda a multidão
silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e
prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios” (At 15.12 — ARA).
O pronunciamento decisivo de Tiago. Apesar
de sua reputação conservadora, sai Tiago irmão do Senhor, em defesa dos santos
gentios e da universalidade da igreja de Cristo: “Pelo que, julgo eu, não
devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas
escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das
relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At
15.19,20 — ARA).
A CARTA DE JERUSALÉM.Encerrados os debates,
decidem os apóstolos enviar uma encíclica às igrejas de Antioquia, Síria e
Cilícia, por intermédio de Paulo, Barnabé, Judas e Silas, expondo as resoluções
tomadas no Concílio de Jerusalém (At 15.27-30). Resoluções estas, aliás, que se
fizeram universais tanto em relação ao tempo quanto ao espaço; tornaram-se
contemporâneas dos cristãos de todas as eras. Em resumo, o documento trata dos
seguintes temas:
Da salvação pela graça. Deixam os
apóstolos bem patente o seu apoio ao evangelho que Paulo proclamava aos
gentios: a salvação pela graça (At 15.11).
Da comida sacrificada aos ídolos. A
carta circular dos apóstolos é bem clara: “Que vos abstenhais das coisas
sacrificadas aos ídolos” (At 15.29). Terá essa recomendação alguma serventia
para nós hoje? Além das festas juninas e dos doces distribuídos no dia de Cosme
e Damião, há muitos banquetes consagrados aos deuses das riquezas, às
divindades do poder corrupto e corruptor, e aos demônios da permissividade
moral e do relativismo ético. Outrossim, cuidado com os restaurantes que, logo
na entrada, expõem a sua divindade como se fora um mero folclore. Não é
folclore; é demônio mesmo.
Da ingestão de sangue e de carne sufocada. Parece
uma recomendação banal? Nada na Bíblia pode ser banalizado. Ouçamos e
obedeçamos à encíclica apostólica: “Que vos abstenhais [...] do sangue, da
carne de animais sufocados” (At 15.29 — ARA). Receitas culinárias que empregam
o sangue como um de seus ingredientes contrariam as leis divinas. Leia Gênesis
9.4.
Das relações sexuais ilícitas. Num
século tão promíscuo e leniente como este, a recomendação dos santos apóstolos
não haverá de ser esquecida: “[...] que vos abstenhais das relações sexuais
ilícitas” (At 15.29). O que é uma relação sexual lícita? É a praticada no
âmbito do casamento entre um homem e uma mulher. Logo, o sexo antes e fora do
casamento é ilícito e pecaminoso (Êx 20.14; Ap 22.15). Pecado também é o
homossexualismo tanto masculino quanto feminino (Lv 18.22; Rm 1.26-27; 1 Co
6.9).
A voz dos apóstolos não pode ser calada pela “lei da
mordaça”.Que o exemplo dos santos apóstolos mova a Igreja de Cristo a livrar-se
de toda briga local, a fim de mostrar a sua vocação universal e eterna. O mesmo
Espírito que dirigiu o Concílio de Jerusalém faz-se presente no meio de seu
povo, inspirando os ministros do Evangelho a tomarem decisões de conformidade
com a Bíblia Sagrada. Interessante, o concílio convocado para combater o
legalismo judaizante tornou a Igreja de Cristo mais santa e pura.
“A decisão do Espírito Santo.‘Na
verdade pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor mais encargo
algum, senão estas coisas necessárias: que vos abstenhais das coisas
sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação
[relações sexuais ilícitas — ARA]; das quais coisas fazeis bem se vos
guardares’ (At 15.28,29). A expressão ‘pareceu bem ao Espírito Santo’
significa: O Espírito Santo, na sua atuação entre os gentios já testemunhara
que estes foram libertos do jugo da Lei mosaica (At 10.44-48). O Espírito
Santo, cuja orientação foi prometida aos apóstolos e outros líderes [e à
Igreja], já testemunhara ao coração deles que os gentios deviam ser livres do
fardo (Mt 18.20; Jo 16.13). [Ou seja] Os gentios foram isentos da obrigação de
observar os costumes judaicos. [...] Estes convertidos já possuíam a vida e a
liberdade espiritual. Por que enterrar esta vida com formulários mortos?”
(PEARLMAN, M.Atos. E a Igreja se fez Missões. 1.ed.
RJ: CPAD, 1995, pp. 169-70).
As viagens missionárias de Paulo
A
Igreja Primitiva cumpriu a Grande Comissão enviando Paulo e
Barnabé para a obra que o Senhor os chamara. Assim, Paulo alcançou as nações de
sua época. Nós, como Igreja do Senhor, também devemos fazer a nossa parte, pois
ainda existem muitas nações e povos que precisam ser alcançados com o Evangelho
de Cristo. Atualmente na “Janela 10x40” existem milhares de pessoas que se
encontram em trevas espirituais. Como elas ouvirão o Evangelho se não há quem
pregue? (Rm 10.14). E como pregarão, se a Igreja do Senhor não enviar e
sustentar os missionários? (Rm 10.15). Ouçamos a voz do Espírito Santo, pois
Ele continua a falar à sua Igreja: “Separai meus servos para a obra que os
tenho chamado”.
A Igreja Primitiva evangelizou o mundo gentio em aproximadamente
trinta anos. O imperativo missionário de Atos 1.8 era, e sempre será, uma
demanda que não admite contestação ou indolência. Movidos pelo Espírito Santo,
os discípulos saíram a evangelizar e a discipular a todos os povos. Nenhuma
nação deixou de ser contemplada.
A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 13 — 14)
De Antioquia a Chipre (At 13.1-12). A
primeira viagem missionária de Paulo ocorre logo após ter sido ele comissionado
pelo Espírito Santo (vv.2,3). Orientado pelo mesmo Espírito, o apóstolo,
juntamente com Barnabé, embarca em Selêucia, porto marítimo de Antioquia, em
direção à Ásia Menor (v.4). Com isto, Lucas demonstra ser o Espírito de Cristo
o verdadeiro protagonista de Atos dos Apóstolos (v.9).
Já em Chipre, cidade natal de Barnabé (At 4.36), desembarcam em
Salamina, onde havia uma considerável população judaica. Ali anunciam a Palavra
do Senhor à sinagoga local. Depois, viajando em direção à ilha de Pafos,
proclamam o Evangelho de Cristo às suas aldeias e povoados.
De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52). De
Pafos, subindo o rio Cestro, Paulo chega a Perge, região da Panfília, cuja
população era devota de Diana (Ártemis). Após uma viagem de 160 quilômetros, o
apóstolo chega a Antioquia da Pisídia, onde havia uma grande comunidade judaica
e um posto militar romano.
Na sinagoga local, Paulo proclama o evangelho aos judeus da
Diáspora, conduzindo muitos à conversão. Não poucos prosélitos também aderem à
fé. No sábado seguinte, uma grande multidão congrega-se, a fim de ouvir a
Palavra de Deus. Os judeus incrédulos, porém, saem a blasfemar e a incitar a
cidade contra o apóstolo.
De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28). Localizada
no entroncamento de Éfeso, Tarso e Antioquia, era Icônio uma cidade mui
estratégica à difusão do evangelho. Como de costume, Paulo põe-se a evangelizar
os judeus da dispersão. Muitos crêem. Outros, porfiando em sua incredulidade,
incitam as gentes contra os apóstolos.
Temendo por suas vidas, Paulo e Barnabé deixam Icônio e
dirigem-se a Listra e a Derbe, cidades da Licaônia.
Em Listra, que tinha como padroeiro a Zeus, o maioral dos deuses
gregos, os apóstolos pregam e restauram a saúde a um coxo de nascença.
Abismados pelo milagre, os licaônios atribuíram o prodígio à manifestação de
Zeus e Hermes (At 14.11,12). E já completamente fora de si, puseram-se a
oferecer sacrifícios aos apóstolos que, energicamente, impediram-nos (At
14.15).
Logo em seguida, os que eram adorados como deuses são tratados
como a escória da humanidade. Uma multidão, procedente de Antioquia e Icônio,
incita as pessoas a apedrejarem a Paulo, que é dado como morto (At 14.19). No
entanto, a semente ali plantada haveria de florescer e frutificar.
A SECUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 15.36 — 18.28)
Em direção à Ásia (15.36 — 16.8). Após
a ruptura com Barnabé, prossegue Paulo na companhia de Silas, que também era
profeta (At 15.32). Em Listra, une-se a eles um jovem greco-hebreu — Timóteo, a
quem o apóstolo escreveria duas epístolas.
Deixando Antioquia, passaram pela Síria e Cilicia. Confortando
as igrejas na fé, informando-as acerca da resolução do Concílio de Jerusalém
(16.4,5). Em ato contínuo, atravessam a região da Frígia e da Galácia. Mas o
Espírito Santo, sempre na direção dos atos de seus apóstolos, interrompe-lhes a
jornada, conduzindo-os por um itinerário que haveria de mostrar-se vital à
expansão do Cristianismo.
Em direção à Europa (16.12 — 18.18). Em
Trôade, Paulo é orientado, numa visão, a seguir para a Macedônia. Rumo a
Filipos, passa pela Samotrácia e por Neápolis, até chegar a Filipos. Esta foi a
primeira cidade da Europa a receber o evangelho. E Lídia, a primeira européia a
receber a Cristo, constrange os apóstolos a hospedarem-se em sua casa.
Nessa cidade, Paulo expulsa o espírito de adivinhação de uma
jovem que, por intermédio desse artifício, dava grandes lucros a seus senhores
(At 16.16-18). Vendo estes que a fonte de seu ganho secara, incitaram a cidade
contra os apóstolos que, levados ao tribunal, foram postos em prisão.No cárcere,
Paulo e Silas adoravam a Deus quando um terremoto abriu-lhes as portas da
cadeia. O episódio constrangeu o carcereiro e toda a sua família a
converterem-se a Cristo (At 16.31). Já libertos, seguiram eles a Tessalônica,
passando por Anfípolis e Apolônia. E dali, prosseguiram a pé por 64 quilômetros
até a cidade.
Regresso (18.18-22). De
Atenas, dirigiu-se Paulo a Corinto, a mais importante metrópole da Grécia. Na
cidade, fez contatos com Áquila e Priscila. Aos sábados, consagrava-se ele a
proclamar o evangelho aos judeus e gentios ali residentes. Seu grande esforço
resultou na conversão do principal da sinagoga — o irmão Crispo. A permanência
de Paulo em Corinto foi de um ano e seis meses. Despedindo-se da igreja ali
estabelecida, dirigiu-se a Éfeso, na província da Lídia. Em seguida, retorna a
Antioquia via Jerusalém.
TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 18.23 — 28.31)
De Antioquia a Macedônia (18.23 — 20.3). De
Antioquia, Paulo dirigiu-se a Éfeso, objetivando confirmar a igreja local. Como
alguns discípulos nada sabiam sobre o Espírito Santo, pôs-se o apóstolo a
doutriná-los acerca da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Em seguida, orou
para que o Espírito de Deus sobre eles viesse. Imediatamente, começaram a falar
noutras línguas e a profetizar.
Como resultado de seu trabalho, a superstição é vencida na
cidade.
De Filipos a Jerusalém (20.6 — 21.17). Nessa
seção de Atos, Paulo encerra a sua terceira viagem missionária. Visita a
Macedônia e a Grécia. Logo a seguir, retorna a Ásia (20.1-6). Alguns fatos
marcaram-lhe o regresso: seu longo discurso, a ressurreição de Êutico e o
comovente discurso aos anciãos de Éfeso. Apesar de alertado divinamente sobre
os perigos que o aguardavam em Jerusalém, chega à Cidade Santa.
Paulo em Jerusalém. Em Jerusalém, Paulo reúne
os anciãos da Igreja em casa de Tiago e narra o que Deus fizera aos gentios
através de seu ministério. Ante o relato, os presbíteros preocupam-se com a
reação dos judeus a respeito de Paulo. O temor não era infundado: Paulo é
acuado e agredido pela multidão. Todavia, o Senhor preserva-lhe a vida,
providenciando para que seja levada a Roma, onde era mister que proclamasse o
evangelho.
Nas viagens missionárias de Paulo, vemos clara e meridianamente
os Atos do Espírito Santo. Sim, o Espírito Santo continua a operar maravilhas
no campo missionário, fazendo o evangelho chegar aos confins da terra. Quando
intimado pelo Senhor, não se furte. Responda: “Eis-me aqui, envia-me a
mim”.
A Primeira Viagem Missionária.Como
pôde o apóstolo Paulo, em tão pouco tempo, evangelizar os principais centros do
Império Romano e, finalmente, instalar-se em Roma com a irresistível mensagem
do Evangelho? Ou melhor: como pôde um único homem revolucionar toda a sua
época? A resposta não exige muita abstração. Em primeiro lugar, era Paulo um
mensageiro extraordinário do Senhor, através do qual foi o evangelho
universalizado. Além disso, utilizou-se ele da infra-estrutura do império para
viajar de cidade em cidade, de província em província e de reino em reino.
Providencialmente, não precisava de nenhum passaporte especial:
era um cidadão romano. Somente um Deus, que é a mesma sabedoria, haveria de
predispor todas as coisas a fim de que a mensagem da cruz chegasse aos confins
da terra. [...] Em Antioquia, o apóstolo Paulo desempenhou uma importante etapa
de seu ministério. E daqui, partiu ele para a sua primeira viagem missionária.
Após o Concílio de Jerusalém, retornou à cidade com as resoluções tomadas pelos
apóstolos e anciãos (At 15.23). Sua segunda viagem missionária também teria
Antioquia como ponto de partida. Atualmente, Antioquia não passa de uma modesta
povoação. Para nós, no entanto, será conhecida sempre como a igreja missionária
por excelência” (ANDRADE, C. Geografia
Bíblica. 11.ed. RJ: CPAD, 2001, pp.227-29).
Paulo
testifica de Cristo em Roma
A respeito da viagem de Paulo a Roma. Veremos que essa não foi
uma viagem fácil. Paulo enfrentou grande perigo, todavia o Senhor o guardou e o
levou em segurança até o seu destino final. Em Roma, Paulo ficou em prisão
domiciliar e teve a oportunidade de se reunir com os líderes da comunidade
judaica, testemunhando de Cristo e dando continuidade à obra do Senhor.
O apóstolo Paulo não era prisioneiro de César ou de Roma;
era-o de Cristo (Ef 3.1; Fm 9). Do relato lucano, concluímos: os fatos que o
conduziram a Roma não eram incidentais, mas propositais, pois foram dirigidos
por Deus (At 23.11). Se era urgente fosse o evangelho anunciado em Jerusalém, a
capital religiosa dos judeus, era premente que a palavra da salvação alcançasse
Roma, a capital política do Império.
Assim chega o evangelho à capital do Império Romano. O
mensageiro na verdade achava-se preso, mas a mensagem da cruz tinha livre curso
em Roma, Ninguém era capaz de detê-la. A Palavra de Deus avançava sem
impedimento algum.
VIAGEM DE PAULO A ROMA (At 27.1 — 28.10)
Constrangido a apelar para César, o apóstolo Paulo é conduzido
agora pelas autoridades romanas à capital do império. O que parecia um simples
traslado de preso, haveria de ser registrado pela história como o início da
maior expansão do Cristianismo que, conquistando toda a Europa Ocidental, não
tardaria a chegar aos pontos mais ignorados do planeta.
De Cesareia a Roma (27.1-44). Em
sua viagem, o apóstolo conta com a assistência de Lucas e de um crente
macedônio chamado Aristarco (ver 19.29; 20.4; Cl 4.10; Fm 24). Como diz o sábio
rei de Israel, é na angústia que nasce o irmão (Pv 17.17; 18.24). Além disso, o
centurião que lhe cuida da segurança, trata-o com deferência e humanidade.
Permite-lhe inclusive que visite a igreja em Sidom. Quando Deus nos envia, até
os inimigos fazem-se amigos e os amigos tornam-se irmãos.
Açoitada pela voragem do mar, segue a nau lenta e
dificultosamente até Mirra, na Lícia. Desta cidade, zarpam em direção da Itália
em um navio procedente de Alexandria. Embora prisioneiro, o apóstolo mantém o
controle da situação. Mostra uma autoridade moral e espiritual que viria a
surpreender a todos naquela nau. Haja vista a advertência que faz ao centurião
quanto aos perigos que os aguardavam em seu trajeto a Roma. O militar, que de
início prefere ouvir o piloto a Paulo, ver-se-á mais adiante obrigado a
reconhecer a oportunidade de seu conselho.
Paulo na ilha de Malta (At 28.1-10). Forçados
a desembarcar em Malta, localizada ao sul da Sicília, todos são tratados com
singular bondade pelos naturais da terra. Ali, opera o Senhor, por intermédio
de Paulo, sinais e maravilhas. Aquele que se mostrara imune à víbora que se
achava oculta nos gravetos, cura o pai de Públio, magistrado local, e recupera
a saúde a muitos ilhéus. Dessa maneira, semeia Paulo uma igreja que não
tardaria a florescer. Apesar das dificuldades que você enfrenta, querido
missionário, Deus quer operar o sobrenatural por seu intermédio.
Paulo chega a Roma (At 28.11-15). Decorridos
três meses, o navio que conduziria Paulo a Roma, zarpa generosamente suprido
pelos malteses. Desembarcam em Siracusa, chegam a Régio e aportam em Putéoli.
Aqui, instados pelos irmãos, o apóstolo juntamente com seus companheiros
hospedam-se por sete dias.
Já em Roma, encontra-se com alguns irmãos na praça de Ápio. O
Senhor jamais abandona os seus mensageiros, mesmo distantes da pátria querida,
faz-nos Ele sentir-nos em casa. Você passa por alguma provação? Parece que o trabalho
não avança? Não se deixe abater. A Palavra de Deus jamais voltará vazia. Você
ficará surpreso com o que o Cristo está para realizar através de seu
ministério.
O EVANGELHO É PROCLAMADO NA CAPITAL DO IMPÉRIO (At
28.16-31)
Se o Senhor decretou fosse o evangelho conhecido em toda a Roma,
por que manteve encarcerado o seu maior campeão? Neste momento, talvez esteja
você aprisionado a entraves burocráticos dentro e fora de nossas fronteiras.
Não se desespere. Ninguém haverá de algemar a mensagem da cruz. Não há
protocolo capaz de barrar a vontade de Deus.
Prisão domiciliar (28.16). Como
não recaía sobre Paulo nenhuma acusação de crime capital, era-lhe permitido
morar por sua própria conta. Apesar de vigiado por um soldado, tinha liberdade
de ler, escrever, receber visitas e, naturalmente, evangelizar. Terá aquele
militar se convertido a Cristo? Não tenho dúvidas. Mesmo sem liberdade, o
Senhor deixa-nos livres para realizar a sua obra.
Apologia entre os judeus (28.17-22). De
sua prisão domiciliar, Paulo convoca os líderes da comunidade judaica para
expor-lhes os eventos que o trouxeram sob algemas a Roma. Como apóstolo dos
gentios, aproveita ele para anunciar que Jesus era, de fato, o Messias de
Israel. Alguns deixam-se persuadir, outros preferem continuar na incredulidade.
Entre os gentios, contudo, o evangelho põe-se a expandir até mesmo na elite
romana. Na exposição da Palavra de Deus, seja um autêntico apologeta.
Apresente, com mansidão e firmeza, as razões da esperança cristã.
Progresso do evangelho em Roma (28.23-31). Roma
era o centro político, econômico e cultural do mundo. Apesar de sua grandeza e
não obstante a sua importância, a cidade fizera-se notória pela lassidão moral
e pela degenerescência de seus costumes. Em seus termos, os cultos mais
extravagantes e as mais exóticas religiões. E os deuses encontradiços em cada
praça e logradouro?
Gente de toda parte misturava-se pelas ruas de Roma. Berço de
notáveis oradores, políticos, generais e juristas, era a cidade marcada pela
injustiça, ignorância e por uma soberba tola e animalesca. Haja vista as
deferências cultuais que recebiam imperadores como Nero e Calígula.Todavia, ali
estava um poder que haveria de sobrepor-se sobre a todos os mais afamados
símbolos e potentados romanos: o Evangelho de Cristo Jesus. Haveria este de
avançar com muito mais determinação do que as mais aguerridas legiões romanas.
Avançaria sim e conquistaria nações sem impedimento algum.
Se Lucas deixa em aberto os Atos dos Apóstolos, por que iríamos
nós fechar as portas que o Espírito Santo nos abre todos os dias? Sim, portas à
evangelização nacional e portas às missões transculturais. Aproveitemos, pois,
o Centenário das Assembleias de Deus no Brasil, para dar continuidade à
evangelização dos povos. Atos 1.8 é uma ordenança que não pode ser esquecida.
Se nos dispusermos a ir, todos os impedimentos ser-nos-ão tirados.
Paulo em meio à tempestade.“A
experiência de Paulo na tempestade, dentro da vontade de Deus, contrasta com a
de Jonas, que estava em desobediência. Comparando as duas, notamos: Paulo
viajava para cumprir sua sagrada vocação. Jonas fugia da chamada que recebeu.
Este se escondeu e dormiu durante a tempestade. Aquele dirigia as operações e
encorajava os passageiros. A presença de Jonas no navio era a causa da
tempestade. O navio em que Paulo viajava seria preservado de todo dano se os
tripulantes respeitassem seu aviso (At 27.9,10). Jonas foi forçado a dar
testemunho acerca de Deus (Jn 1.8,9). Paulo, com boa vontade e coragem, falou
acerca da sua visão e do seu Deus. A presença de Jonas no navio ameaça a vida
dos gentios. A presença de Paulo era uma garantia para a vida dos seus
companheiros de viagem. O navio em que Jonas viajava recebeu alívio quando ele
foi jogado no mar. A conversão de Paulo salvou a tripulação do navio no qual
era prisioneiro. Há muita diferença em atravessar uma tempestade dentro e fora
da vontade de Deus! Paulo, andando segundo o querer de Deus, em comunhão com
Ele tornou-se bênção para todos quantos atravessavam o perigo com ele. Conforme
Paulo anunciou, todos escaparam ilesos para a terra. Ficaram na ilha durante o
inverno, um período de três meses. Mais uma vez foi manifestada a presença de
Deus através de Paulo” (PEARLMAN, M. Atos. 1.ed., RJ: CPAD, 1995, pp.
248-49).
• Malta — “A ilha e
pequena, com cerca de 29 quilômetros de extensão e 13 de largura. Está situada
entre a Silícia e a costa africana. Provavelmente, seja o local identificado
como a ‘baía de São Paulo’. Na época de Paulo, Augusto alojou, no local,
veteranos aposentados do exército. A população falava, além do grego, sua
língua original fenícia” (RICHARDS. L. O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse
capítulo por capítulo. 1.ed., RJ: CPAD. 2005, p.733).
• Roma — “Antiga
rainha do mundo, acha-se edificada às margens esquerdas do Rio Tibre, sobre
sete colinas. A cidade é mencionada nos Atos, na Epístola de Paulo aos Romanos
e na Segunda Epístola a Timóteo.
No tempo de Pompeu, muitos foram os judeus levados a Roma como
cativos. Para eles, o governo reservara um território na margem direita do
Tibre. Apesar de desfrutarem dos favores de Júlio César e Augusto, foram os
judeus perseguidos por Cláudio que resolveu expulsá-los da capital do império
(At 18.2).Muitos, todavia conseguiram permanecer em Roma, pois quando Paulo
aqui chegou, como prisioneiro do Império, encontrou uma considerável colônia
judaica (At 28.17)” (ANDRADE, C. Geografia
Bíblica. A
geografia da Terra Santa é uma das maneiras mais emocionantes de se entender a
história sagrada. 11.ed., RJ: CPAD, 2001, p.248).
MAIS
ASSUNTO:WWW.PENTECOSTALTEOLOGIA.BLOGSPOT.COM
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